domingo, 3 de abril de 2011

Banho de Lua


A verdade é que terminado o jantar, um dos amigos olhou o relógio e de logo sentenciou: estamos perdendo a lua! É o perigeu, complementou o outro, mais versado em questões celestiais, mesmo não sendo bom nos detalhes sacros propriamente ditos. Chame-se o Harrop, para que as fotografias fiquem a contento e o telefone celular convocou o condômino dotado desses predicados. O nosso artista maior, craque na arte de fixar a cena e divulgar depois na Internet, estava com os olhos ardendo de tanto sono. Preferiu deixar para outra oportunidade a aproximação lunar. Esperaria anos a fio para descortinar o luar à beira do açude. O Pereira, que estava também às voltas com Morfeu, espertou e levantou-se espantado. Vamos ao açude, foi o que disse.
Dividiram-se em dois carros os três casais da noite e desceram a ribanceira em direção ao que chamam espelho d’água. A negritude do tempo fez o Amaral levar uma lanterna de alta potência e mais um cajado, cuja finalidade, explicou, era provocar vibrações na terra e assustar os possíveis ofídios preparados para o bote. Uma beleza a paisagem, sobretudo porque um velho jacaré do papo amarelo, com a lentidão dos répteis, acendeu os olhos, quando viu o grupo andando à beira do grande volume hídrico. O Batista até um poema declamou, eximindo-se em declinar o nome do autor, tal o nível de sua flexão. Uma beleza aquilo lá!Um luar imenso no horizonte das coisas parecia alumiar o mundo por inteiro, clareando o caminho; o caminho e os bancos do lugar. Gente sentada nas mesinhas de pedra posaram para fotografias que perpetuaram a cena. E ao longe, numa estrada de barro batido um carro passou solitário, rompendo o canavial. Houve quem enxergasse um casal em aproximação também. De qualquer forma, pelo sim e pelo não, deu-se um: “Viva ao amor!”. Ainda se viu a jovem enamorada tomando um banho de lua! Como se tratava de uma visão distante, longínqua, deu-se o nome de apogeu, ao contrário da lua, em pleno perigeu.Depois, diante do medo que uma cobra qualquer, entocada no meio do mato, saltasse e desse a picada definitiva em um dos penitentes de ocasião, optou-se pelo “Dominó Mexicano”, espécie de jogo de pedras no qual há pelo menos 92 peças e um interminável serpentear de outras cobras e outros bichos. Assim foi, regado a bom vinho chileno, o que fez o Pereira arriar de vez. Jogou-se pra lá e pra cá, pontos ganhos e pontos perdidos.
No final, encerrou-se a temporada com a salada à base de grão de bico, feijão verde e bacalhau. E outro fim de semana há de chegar, para tudo começar.