quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Um Avô a Mais na Conta dos Anos

O ano novo chegou com ares de bom tempo, é o que estamos sentindo em casa, eu e os demais, a constelação parental inteira. As boas notícias se sucedem por aqui. Um genro melhorou no emprego e outro foi chamado a assumir um cargo no serviço público. Mas, nada disso superou a satisfação de que fomos tomados com o diagnóstico da gravidez recente da filha mais velha. Vem por ai um neto, o primeiro dessa geração terceira, metade brasileiro e metade espanhol. Pelo que disse a médica, minha colega de turma e minha amiga do peito, a criança será um menino e nasce a 7 de setembro, o Dia da Pátria. Nasce assim, em data tão significativa, para afirmar e reafirmar uma cidadania que também há de ter: brasileiro como a mãe ou brasileiro como os avós maternos.

A filha que mora em Fortaleza e com a irmã – a nova mãe – tem uma união, verdadeiramente, fraternal, fez uso da modernidade das coisas, usou da tecnologia e digitou uma mensagem para a vozinha neófita. Dizia: “Vou ser titia e você vovó! Bem que sentimos que este ano ia ser maravilhoso!”. As lágrimas correram frouxas. Chorei feito um bezerro desmamado. A filha caçula, então, não hesitou e expressou: "Bota essa coruja pra fora! Pai!" Foi uma animação geral, gente que telefona e gente que bate à porta; gente que sobe e gente que desce o elevador do prédio. Todo mundo cumprimenta, abraça e beija, dá os parabéns e deseja sucesso. “Tenha uma boa hora!”, diria a minha avó paterna, se viva estivesse e por cá viesse ou “Nossa Senhora do Bom Parto lhe dê uma boa hora!”, diria a tia velha, solteirona e viúva; viúva da Guerra do Paraguai.

Houve quem propusesse uma crônica por dia; a cada manhã no Blog publicada. Valha-me Deus, quase digo, para transmitir as dificuldades da criação, uma gestação também na parição do texto. Mas, com isso, com esse estimulo de quem lê as minhas linhas, vou escrevendo sem pausa, devo confessar, tal a felicidade que vivo agora, a de ser avô. O meu co-sogro, o avô das terras de Espanha – Armando Herraz –, cuja família, imagino, antecipa os nossos Ferraz, de Floresta e do Recife, quando teve a noticia errou o caminho de casa e não se recuperou ainda da surpresa. Por lá, na terra de Lorca, chamam de abuelo. Um menino que chega assim, com duas línguas de uma só vez, há de ser feliz com a vida em paises diferentes. Estuda por lá e passa as férias por cá.

De meu avô materno lembro muito bem – não conheci o paterno –, da relação que tinha com ele guardo saudades, das visitas aos domingos, do açúcar-cande que trazia, todo amarradinho com cordão. Era delicioso chupar aqueles pedaços dominicais de doce. O cabelo branco, desalinhado, às vezes, marcava-lhe a face e o terno de linho, com a colorida gravata borboleta, um sinal evidente da elegância que tinha. Mas, fico pensando, então, se o Barão do Ceará-Mirim, meu bisavô pelo lado paterno, de quem tenho a cópia de um retrato a óleo colorido, imaginou um dia ter uma trineta casada com espanhol de nascimento e um tetraneto da terra que inspirou Cervantes. É um fenômeno, realmente! Quase uma volta às origens, se na Península Ibérica – em Portugal principalmente – está o começo de tudo e de todos.

Os avós se sentem velhos quando lhes chega um neto, com toda certeza, mas exultam de felicidade ao reconhecerem que vai ficando por aqui, fincado na terra em que se nasce, o gérmen da família, o tijolo desse edifício social – a sociedade –, cuja argamassa há de ser o bom convívio. A cabeleira está prateando o tempo e o corpo vergando à força dos anos, mas a certeza de que a estrada foi o bom caminho faz a diferença na contabilidade da idade.

Valeu!

(*) Crônica escrita logo depois da notícia de que o primeiro neto estava a caminho, encomendado devidamente e dando bons sinais de mais uma presença na família. Viva! Comente aqui ou comente para pereira@elogica.com.br