quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O Convescote da Afonso Pena

Eu não sou muito desses movimentos! Mas, ele ligou e convidou, ligou e lembrou, insistiu e novamente convidou, lembrou mais uma vez. No almoço encontrei Bob e Valéria também chamou; chamou e insistiu. Em casa não disse que sim ou que não, apenas comuniquei: “Moisés chamou para uma confraternização da rua Afonso Pena e adjacências!”. Deixei a decisão de ir ou de não ir para o momento. Quando a manhã do domingo esquentou e fez os termômetros marcarem 32ºC, decidi: “Vou ao convescote de Moisés!”. Como casei com mulher que nunca enjeitou passeio ou festa, obtive a concordância de pronto: “Vamos!”. Encontrei por lá mais gente do que esperava e confesso que fui recebido quase como um nobre do Império. Gente de lá, da Afonso Pena e gente de cá, da Sossego e da General Semeão, da Bernardo Guimarães e dos Pires. Todos nesse esforço sessentão de resgate do ontem das coisas.
Quem presidia o espetáculo do tudo era Zé Moraes, figura que pontificava nos anos sessenta e que continua sendo o atleta de hoje, jogando tênis e fazendo musculação, saltando em distância e se jogando nas alturas que aparecem, pulando obstáculos. Mas, havia outros, muitos outros, velhos amigos dos anos de calças curtas e dos tempos que se foram. Um desses, Ademir de prenome, já frequentou este espaço virtual, era o homem do “por quê?”. Aquele que indagava sobre qualquer que fosse o ato e ou o fato, razão para ter levado um soco de um pintor, depois de tanta pergunta sem jeito. No meio da confraternização, pra lá e pra cá, conhecia de um por um e sabia das histórias todas, tintim por tintim. Isso é que é memória, repetia-se a cada mesa.
Os Valadares, quase do mesmo jeito, esbanjavam vida e saúde, saudavam os que chegavam e reclamavam de quem ameaçava sair, almoçar e voltar pra casa, em busca da sesta dos hábitos. Um deles recebeu “Carrapeta”, fez as medidas antropométricas, concluindo que crescimento não tivera nessas três décadas pra trás. Também pudera! Ângela Barreto passeava acima e abaixo, trazia exemplares de seu livro – Em Tempo de Espera -, volume que trata de amores e de desamores, de promessas e de máscaras, de louvações e despedidas. A uns e a outros autografava um exemplar e agradecia a leitura. Li de um fôlego só! No mesmo diapasão, a nossa Myriam Brindeiro distribuindo a Agenda do Poeta, na qual pontifica gente da melhor espécie entre nós. E Fred Moreira? E Adilza? E Adilson? Todos por lá, num vaivém danado, do ver e do rever.
A família Diniz em peso. Marcos, o primogênito, começando na Internet, viúvo e noivo, noivo e viúvo. Murilo, o mago da relojoaria, esbanjando humor, mostrando os irmãos: Marta e Mércia, Moisés e Mozar. Quando no relógio de Murilo os ponteiros se abraçaram e ele gritou, em alto e bom som, o meio-dia, entrou Dinizinho (José Diniz Filho), que vinha com os cabelos desgrenhados, esvoaçantes, qual poeta que de longa cabeleira puxa o verso e faz a rima. Falou de Angola e de sua devoção aos pais. Disse da fotografia de ambos – de seu José Diniz e de dona Lilia – sobre a mesa de trabalho e da prece que faz quando precisa de um alento: “Pai e Mãe: O que faço agora?”. É! É sempre assim, a falta que fazem os pais, genitores de todas as horas! Sabendo ou não sabendo das coisas, são invocados e evocados, uma luz é o que se pede, porque todos são sábios no entender dos filhos.
Tive vontade de falar com Sônia, colega minha – de Fred Moreira também – nos bancos escolares, mas lembrei de episódio com outra companheira desses anos e de meu entusiasmo: “Foi minha colega no grupo escolar!”. E a resposta rude: “Não gosto quando você diz isso!”. Mas, Sônia não falaria assim, justificou Moisés. Pois, meu caro Moisés, diga a ela. Lembre desse tempo que se foi pra trás e ouça as suas considerações. Talvez lembre, ainda, de Vera Mendes ou de Elizabeth, a inglesa. De Silvio Romero e de Luiz Fernando. E Bob, coronel por derradeiro, escritor e bombeiro, professor e romeiro nas brenhas do sertão. Entrou com aquele jeitão, piscando o olho pra toda gente e trazendo a tiracolo Valéria de todas as animações. Abriu a sirene à chegada e só desligou quando saiu o último dos penitentes.

Eis ai, amigo leitor, o convescote da Afonso Pena.