Tenho recebido umas
mensagens telefônicas estranhas. São torpedos que chegam dirigidos sempre a
mulheres, com prenomes diferentes. Convocam a senhora ou senhorita a ligar
urgente para um determinado número 0800, dizendo tratar-se de “assunto de seu
interesse”. Já tentei ligar para o telefone recomendado, mas não atende de
forma alguma. Não sei, verdadeiramente, de que se trata. Só sei que são ligações,
quase sempre, originadas em outros estados, senão em cidades de Pernambuco com
DDD diferente do Recife.
Dia desses, porém,
estava cortando cabelo com Edson, ali no começo da rua da Hora, esperando a vez
de fazer o pé com Sônia, que é excelente pedicura, quando toca o telefone. Deu-se,
então o seguinte diálogo, mais ou menos recuperado aqui, graças a minha ainda
conservada memória:
- Boa tarde senhor!
- Boa tarde!
- A senhora Rebeca
está?
- Infelizmente, tenho
que lhe dá a triste notícia da morte de Rebeca.
- Não me diga uma
coisa dessas!
- É! Faleceu!
- O senhor é o que
dela?
- Eu sou o amante
dela!
- Por favor tem algum
número de telefone de familiar ou de amigo para me fornecer.
- Sinto muito,
prezado, mas todos ficaram com raiva de mim e eu não o posso ajudar. Era muito
ligado a ela, mas somente a ela. Aliás, era uma mulher extraordinária, na mesa
e na cama. Não podia ter morrido.
E o meu interlocutor
de ocasião desligou, sem mais delongas.
Fiz logo dessa forma,
para ver se me deixam em paz, porque não é brinquedo ficar recebendo recado por
outra pessoa.
Mas, por outra pessoa,
de quando em vez recebo alguma coisa. Eu sou assim, o que é diferente parece me
atrair. Uma manhã, ia saindo para o Pilates, quando o telefone de casa toca.
Voltei e atendi. O camarada foi curto e grosso: “Sequestrei seu filho!”. E ai mandou
que outro fizesse uma voz infantil, chorando. Não tenho filho homem, apenas três
meninas. Esse foi o azar do camarada. Ai perguntei: “É o Armandinho?”. Dei esse
prenome para homenagear o meu amigo Armando, professor da UFPE e diretor da COVEST.
Quando ele me confirmou que era, abri o verbo e disse poucas e boas. O
desgraçado, mesmo depois de ser chamado de tudo no mundo e mais um pouco, me
disse em troco desaforos mil. Desliguei e fui embora.
Outra vez, fui fazer
uma compra e a loja não liberou: “O senhor está com o nome sujo no SPC!”. Pedi
que ela visse de que se tratava e com muita dificuldade conseguiu a explicação:
fizera uma compra grande na Bahia e não pagara. Nas Casas Bahia, precisamente, da
qual minha mãe tinha tanta raiva de ver os comerciais, quando ainda não havia
filial da loja por aqui. Foi justamente o caso, não havia loja no Recife. Hoje
já existe! Liguei pra lá e disse: “Minha senhora, eu nunca entrei nas Casas
Bahia, não sei como são e ignoro o que vendem. Moro no Recife e a única relação
que posso fazer de alguma aproximação é o fato de minha mãe não gostar de ver
na TV os anúncios do magazine, quando por cá não existe sequer uma loja.” E a
penitente me explicou que alguém fez a compra em meu nome, usando o meu CPF.
Mas, foi atenciosa e dispensou os pagamentos, claro.