domingo, 15 de junho de 2014

Outras copas e outras datas


Outrora as copas eram transmitidas pelas emissoras de rádio. Cada qual que se habilitasse a ouvir nessa ou naquela estação. Depois, quando a televisão chegou, ouvíamos o jogo pelo rádio e aguardávamos a chegada do vídeo, para que pudéssemos entender o desenrolar da partida, sabendo já do resultado. Era uma vibração geral, como hoje ainda acontece, mas com essa precariedade toda tecnológica. Os tempos mudaram e a transmissão em tempo real agora deixou pra trás as carroçáveis épocas do rádio e do vídeo - tape.

Na minha cabeça as copas sempre foram nesse tempo das festas juninas, daí a coincidência de eventos: os jogos e as fogueiras. Este ano há uma diferença, os chamados Black Bocs têm imperado e tome protestos, um em cima de outro. Também, não se entende como é que um país com tantos problemas, sobretudo de educação, de saúde e de segurança se atreve a gastar rios de Reais com as arenas. Ao que parece, houve desvio em quantidade razoável e as verbas públicas rolaram ao sabor da corrupção. Sendo assim, entende-se, muito bem, os protestos aqui e ali. O povo não aguenta mais tanto descaso!

As datas são as mesmas, embora as comemorações tenham assumido as transformações do tempo. O dia de Santo Antônio sempre foi motivo para as promessas, nas quais se rogava a interseção do santo por um casamento que valesse a pena. As igrejas se enchiam de gente suplicando o matrimônio. Aqui no Recife, a Igreja de Santo Antônio, aquela que fica na esquina da av. Guararapes, passava – acho que ainda passa – o dia inteiro aberta, para receber a gente interessada nos pedidos, que propiciassem a aproximação de um bom partido. Muitas vezes, o pedido era seguido de uma fotografia deixada no altar, para que houvesse continuidade no pleito.

Certa vez, achei uma dessas fotos, que não parecia ser de uma moça casadoira, mas a de uma senhora já mais velha, futura sogra, talvez, de alguém interessado em pedir e rogar. Não tive dúvidas e furtei a foto, trouxe para casa e preguei uma peça em parente meu que tinha uma namorada por perto. Fiz um oferecimento mais ou menos nesses termos: Estou lhe enviando a foto de minha mãe, sua quase sogra, com o vestido que você mesmo deu em seu aniversário! Foi um sarceiro danado, porque mandei entregar ao parente em casa da noiva. Valha-me Deus do céu, quase pega fogo, com a moça querendo explicações e indagando de onde era aquela sogra.

O São João era uma beleza, pois que o meu pai comprava fogos em quantidade e a minha mãe cuidava em soltar. Nunca entendi as razões para ele não acender os vulcões, que davam cor aos céus de minha infância? A grande verdade é que a minha mãe fazia esse papel! Uma fogueira mixuruca queimava, sempre, no começo do terreiro e fazia um papel importante, pois que se acreditava que o dono da casa, se não se acendesse a lenha, tombaria morto naquele ano. Em Olinda, na rua da namorada – hoje minha mulher – o ambiente era um pouco rurbano, para usar a expressão gilberteana e era comum as pessoas atravessarem a fogueira, depois do fogo apagar e as brasas ficarem firmes, acesas. Eu passei muitas vezes, mas hoje, francamente, não passo mais por dinheiro nenhum. Antes do ato quase heroico, as pessoas faziam uma oração, coisa de quem quer tornar mais dramático ainda o ato e o fato. 

E por ai vai!