Ruim mesmo foi a volta, porque saímos de São Paulo e fomos
bater com os costados em Brasília. Esperamos umas horas e finalmente perto das
3 da tarde nos acomodamos no vôo que se destinava a Recife. Fiz muitas vezes
esse percurso aéreo, quando estava na administração da Universidade. Lembro de
uma passagem em que o atencioso senhor que nos recebia comentava sobre a
mulher, dizendo com insistência tratar-se de uma figura linda, desejada por
muitos. Por isso, antes que ela chegasse, se dava ao luxo de admirar as que
passavam e não tinham a graça da sua. Imagine o leitor, que a criatura era de
uma feiúra a toda prova e absolutamente ninguém olhou para as suas formas,
exauridas já.
Mas, fomos todos os integrantes da família Gama-Pereira a
São Paulo, para assistirmos o aniversário de Pablo, neto por derradeiro desse
escriba que aqui ensaia essas palavras e essas sentenças. Foi uma beleza,
porque reunimos a família da melhor forma, em todas as circunstâncias do
passeio. No primeiro dia, nos reunimos na picanha da esquina e ali, saboreamos
a melhor carne da pauliceia desvairada. O diabo era a poluição, que nos fazia
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em quantidade. Mas, em nome de todas e de todos, estávamos nós ali, os pais, a
postos. Foi bonito o restaurante no qual nos servimos com as mais deliciosas
massas da cidade. Numa ruazinha bucólica passeamos sob o frio paulista e
apreciamos a elegância das mulheres urbanas. Mulheres finíssimas, sentadas,
quase imóveis, conversando quase sem falar, balbuciando palavras.
Fiquei muito admirado quando fui ao Shopping JK-Morumbi,
gente do mais alto poder aquisitivo, guarnecida por seguranças uniformizados,
de paletó e gravata, às vezes mais um por loja. Sentamos, depois, num
restaurante árabe e nos refestelamos da melhor culinária dessas distâncias islâmicas.
Brincaram comigo os circunstantes pelo pedido que fiz: espetinho. Só que do meu
prato todos experimentaram! E em outro Shopping a minha netinha Júlia abriu o
falatório e quase chama pelo nome avô e avó. Que beleza, pequeninha, acima e
abaixo, andando e gritando pelo pai, num ritmo que só ela sabe fazer: PAPAI. E
aprendeu a chamar pelo primo Pablo, verbalizando: Pabo.
Nada foi mais bonito que a exposição vista no MASP,
intitulada Detalhes. As mulheres de
Renoir se enxugando; uma enxugando o braço e outra a perna, deu o que falar. Lembrei de Maria de Camocim, mulher bonita e
bem feita, de pernas roliças e braços grossos, que se perdeu ou se achou numa
viagem a Caruaru, num amor desadorado com o primo Francisco. Muitos anos
depois, passando numa rua que dá acesso ao Mercado de São José, ouvi o grito do
primeiro andar: “Geraldo!”. E eu, na perplexidade da hora, indaguei dela o que
fazia ali. Morava ali, na companhia de um estivador, que lhe assumira a vida e
a barriga. Queria que eu subisse. Não dava mais! Eu estava casado, pai de
filhas e ela com um rebento no bucho.
A viagem de avião agora é muito diferente daquelas de outrora, quando se servia do bom e do melhor. O que vi foram sanduiches frios vendidos pelos olhos da cara e refrigerantes fajutos servidos em troca do metal, que é vil. Para desmoralizar a febre do comércio nos ares, pedi água do pote. E o comissário não sabia bem de que se tratava.
(*) O leitor que desejar, comente neste espaço mesmo ou pelo e-mail pereira.gj@gmail.com