terça-feira, 1 de novembro de 2011

A dor de barriga do elefante

Ao leitor confesso de logo: gosto muito de passar trote. Trote telefônico e trote pessoal, isto é de corpo presente, como diz certo amigo meu. Passei um tempo por aqui que deixava mensagens no telefone fixo. É que descobri, sem muito esforço, que havia uma caixa postal no equipamento, sob a batuta da companhia e às expensas do assinante, no caso eu. A verdade é que nunca se usou isso e decidi alternar as mensagens. Assim, por exemplo, em certo final de semana, gravei: “Nos velhos conventos de Olinda, os monges ainda se cumprimentam assim: Lembrai-vos da morte. Deixe sua mensagem.”. As reações eram as mais diversas, desde a impressão de que se estava falando com um padre, até a certeza de se tratar de gente do outro mundo. Nessa sistemática, decidi fazer uma enquete sobre o Padre Marcelo Rossi. Assim: “Que opinião você tem sobre o Padre Marcelo Rossi?”. Um interlocutor disse: “Eu até que gosto do padre.” E por ai vai!

Mas, falando em trote pessoal, de corpo presente, como disse, tem um camarada aqui perto de casa, lavador de carro, que todas as vezes que eu passo para caminhar na Jaqueira me cumprimenta dessa forma: “Boa tarde coronel?” ou “Coronel deseja que limpe seu carro?”. Eu fiquei meio cabreiro, mas depois entendi que o cumprimento era geral e irrestrito, passou merecia o gesto. Decidi, então, chamar o rapaz e dizer a ele em certo sigilo: “Olhe, você tem me tratado por coronel e os meus subordinados viram isso. Eu não sou coronel! Sou general!”. Não prestou, pois que o tratamento mudou de imediato. Pior foi no dia que ele indagou onde eu morava, ao que respondi, sem hesitar, general não mora, acampa. “Eu estou acampado ali adiante!” Noutra oportunidade encontrei casualmente com minha mulher e expliquei que era a major e que nos conhecemos no Haiti. Veja só!

Mas, muito pior do que tudo isso foi a ligação que fiz para uma farmácia aqui na esquina. Quando o balconista atendeu, indaguei se sabia das mais recentes normas da Vigilância Sanitária, respondeu que não, ao que expliquei que teriam de vender doravante caixões mortuários e ele, respondendo: “Essa só com o gerente!”. E foi convocar o gestor. Em Aldeia, decorei o telefone de uma sementeira e liguei ao chegar em casa. O homem muito prestativo atendeu: “Alô!”. Ai dei uma explicação furada, disse que o Sr. Messias, morador de Araçoiaba, tinha morrido e como gostava muito de flores, estávamos transportando o defunto pra lá. O pobre do homem quase endoidece, porque era um sábado e a freguesia estava toda na sementeira. Em Aldeia, também, telefonei à clínica veterinária e me apresentei como uma pessoa que havia capturado uma raposa e que o animal estava doente e eu precisava de assistência, mesmo sabendo dos riscos em ter o bicho em casa. A atendente, de logo, advertiu: “Ai só com a doutora!”. E eu desliguei.

Mas, sobre clínica, muito mais engraçada foi a de Pau Amarelo, em tempos idos e bem vividos, liguei para a clínica veterinária e disse que era dono de um circo, que vinha da Paraíba e já estava em Goiana, mas com um problema sério, porque o elefante estava com uma diarréia grande, já tomara 34 vidros de Kaomagma e não obtivera melhora de jeito nenhum. Eu estou levando o animal pra ai, afirmei, decidido. A criatura desesperou-se, justificou que lá só tratavam de pequenos animais e o diálogo prosseguia sem que eu cedesse, até que no final disse a ele que o paquiderme podia dormir mesmo na rua. A coisa foi tão séria, mas tão séria, que ele fechou a clínica o resto do dia.

Com essas coisas eu trato o meu stress!

(*) O texto lembra tempos idos e muito bem vividos, quando o humor presidia o espetáculo da vida. Ainda preside, pelo menos em parte. Com as minhas saídas espitituosas para espantar os stress e as contrariedades. Tantas e tantas coisas que não precisavam ser vividas e o foram. Tantos que já se encantaram no infinito das coisas! Desapareceram todos os velhos de minha juventude e continuam a desaparecer os meus parentes, novos ainda. Um misto, pois, de alegria e dor. Comente o leitor se desejar, no espaço mesmo do Blog ou o faça para os e-mails pereira.gj@gmail.com e pereira@elogica.com.br