domingo, 4 de agosto de 2013

Gato preto e sapato emborcado


Essa gente da cidade pega as coisas do interior e faz tudo trocado! Não entende bem o espírito, mete as mãos pelos pés e deseja imitar a pureza do campo.
A minha avó, que era do campo, recomendava que não se comesse manga misturada ao leite, porque daria indigestão braba e a turma respeitava, com toda a rigidez, a proibição. Dizem que isso surgiu no tempo dos escravos e era uma forma dos senhores inibirem seus cativos de se servirem de um alimento ou de outro, dos dois ao mesmo tempo. Não sei se isso é verdade!
Era ela também quem se ocupava dos espelhos em dias de trovoada. Cobria com lençois brancos a superfície, porque, segundo ela, atraia os raios. Em casa, chovesse ou fizesse sol, não se usava espelhos que tivessem quebradas as pontas ou que tivessem sido partidos, por uma causa ou por outra. Isso dava azar e não convinha. Certa vez alguém, não lembro quem, quebrou um espelho grande. Essa foi uma ocorrência perigosa, porque capaz de de um atraso de 7 anos.
Eu tive uma tia que era muito supersticiosa, tinha medo de gato preto e não entrava em casa com o pé esquerdo de jeito nenhum. Quando uma visita se demorava exageradamente e ela notava que estava saturando a paciência de meu pai, era certo esconder uma vassoura atrás da porta da cozinha. O forasteiro ia embora porque tinha se demorado tanto, que não era mais possível ficar ali, no alpendre de casa, fiando conversa.  Era dela e de minha avó também a proibição de se apontar para uma estrela qualquer, pois terminaria com uma verruga na ponta do dedo. 

Sapato emborcado, nunca jamais, em tempo algum, dava azar, atraso pra família ou morte no mesmo ano. Roupa pelo avesso, nem pensar, era dose dupla! Ainda hoje essas coisas ficaram, em mim! Mesmo sem acreditar não as faço, por hábito! Será mesmo?
Nas festas de São João ou de São Pedro, a faca na bananeira ou os papéis cortadinhos na bacia, com as letras todas do alfabeto, dariam, com certeza, a inicial do nome daquela que seria  a esposa ou daquele destinado a ser o marido. Fiz isso centenas de vezes, repetindo a operação em várias ocasiões na mesma festa. Na faca nunca pintou coisa alguma e na bacia saíram iniciais de "A" até o "Z".
Na casa de meu sogro a fogueira se acendia no badalar das seis horas e tinha que ser, sempre, a mesma pessoa a tocar fogo, transformando em braseiro a madeira lá do mangue. Ora, não é que o cunhado se armava de jornal e álcool, contanto que acendesse o fogaréu. E o monturo de madeira queimava até à meia-noite. Depois, era o momento de se passar no braseiro e eu passei muitas vezes, na casa do vizinho de frente.

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