sexta-feira, 27 de abril de 2007

A Petisqueira

Ficava em cômodo da casa com o nome agora curioso de saleta. Lugar de refeições ligeiras e do preparo dos lanches da meninada. Ali minha mãe batia a vitamina de banana ou machucava a fruta tropical em prato fundo, acrescentando o leite, a aveia, o chocolate e a farinha Láctea. Uma delícia para a criançada, às três da tarde ou mesmo às dez da manhã em tempo de férias. Ali também eram preparadas as sacolas com a merenda da escola, todas com as iniciais JB, isto é, Grupo Escolar João Barbalho, para as quais se utilizava do antigo e ainda hoje integrante dos cardápios de toda gente, o pão francês e um ovo frito, resultando um sanduíche que chegada a hora de comer já estava frio e gorduroso. Mas, todo mundo tinha prazer em sentir no paladar esse gosto diferenciado. Não havia as lanchonetes de agora, tampouco as cantinas colegiais.

A petisqueira servia para guardar a louça do dia-a-dia e eu não me lembro se havia uma outra, mais sofisticada e menos sujeita às quedas e pancadas, senão aquela que a minha avó paterna trouxera do Ceará-Mirim, com o nome de seu pai gravado nas peças: Victor José de Castro Barroca, meu bisavô. A louça e os talheres, esses com a inicial do sobrenome daquele antepassado: “B”. Imagino que nada ou quase nada restou do acervo de família, a não ser um prato que por aqui está exposto na parede e uma terrina ainda hoje vista na moradia patriarcal, transformada em residência matriarcal depois. Era um móvel de acabamento simplório, de portas nas quais o vidro fora substituído por telas de arame, facilitando a ventilação. Na parte aberta da petisqueira eram postas as frutas arrumadas em fruteiras, às vezes decoradas com desenhos sugestivos.

Foram anos e anos sentando ali, na mesa tosca, para um almoço antes da hora ou para degustar pequenas refeições. Não havia cadeiras no lugar, mas bancos comprados na feita de Santo Amaro, aos sábados sempre, vez ou outra reforçados para conter o balanço dos empenos.
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sábado, 21 de abril de 2007

O Mercado Público

Era um homem de meia idade, todo vestido de branco, até o sapato tinha a mesma cor, chegou no box do queijo e pediu: “Um queijo de coalho sem sal, velho e curtido!”. O vendedor e imagino que dono do estabelecimento comercial, respondeu sem mais delongas: “Só tenho queijo novo!”. Mas, ficou resmungando dois ou três minutos: “Cada qual com sua mania!”. Ora, comprasse o produto ainda novo, levasse pra casa e deixasse ao sol, assim curtiria o queijo e comeria a seu gosto, complementou, na ranzinzice de seu gênio. Sucede, porém, que não fui ao mercado público para chafurdar a vida alheia, tinha ido – isso sim! – comprar a cabidela do almoço e trouxe pra casa um frango grande, pesado e com aparência de macio, que alimentou a família inteira. Pedi uma galinha caipira, da qual gosto que me enrosco, mas não tinha. Tinha uma matriz, enorme e dura. Não presta, imaginei!
Aprecio o ambiente do mercado e vez ou outra tomo por lá um café da manhã, a titulo de desjejum, no qual vem a macaxeira cozida, fumaçando ainda e a carne boi cozida. Pode-se escolher, à vontade do freguês, a charque ou a carne de sol, o cuscuz ou o cará. Sentado à mesa compreendo um pouco do tudo que se passa por ali. O papel do vagabundo que se levanta logo cedo do banco da praça, lava a boca na torneira de uso comum, toma os primeiros goles d’água e vai degustar a lapada dos começos de mais um dia, a aguardente pura, da qual tira a parte do santo, como se santo bebesse. No banco do balcão do restaurante, tosco e rude, conta o que pôde amealhar no ontem dos tempos e pede um café, também, até onde pode com as suas economias de um cotidiano ameaçado. Volta à praça e vai preencher com o nada das coisas a sua manhã e a sua tarde, pra novamente deitar-se no banco de madeira dura.
Alguns conhecidos e muitos desconhecidos fazem a feira das verduras e das frutas, o sábado tem essa cara, a da beterraba e a da cenoura, a do chuchu e a do maxixe, a do jerimum e a do quiabo. O feijão verde debulhado na hora serve de complemento à galinha, a manga adorna o prato e faz a festa, o suco e o degustar solene da polpa que mancha de amarelo a boca do penitente e deixa tingidas as mãos e as unhas. Para terminar tudo, só um doce de goiaba em barra, desses crocantes, bem açucarados; doce de goiaba em barra com farinha do pote, branquinha, branquinha. Tudo isso me agrada, porque desde cedo ia à feira de Santo Amaro das Salinas com a minha mãe, voltando com o homem do balaio, com o cognome de “Pássaro Triste”, apelido que meu pai deu pelo semblante inocente e amargo da criatura. Andava barraca por barraca vendo de um tudo e parava naquela dos carrinhos de madeira, apreciando o artesanato que tanto me encantava.
Dessa vez levo filha minha que da Espanha chegou e pra lá há de voltar, Fabiana de prenome. Estuda as marcas no corpo, de cá e de além mar, tatuagens e outros sinais perpetuados na pele. Termina um doutorado que começou aqui, pelo Recife e com a tese vai ter um título tupiniquim e outro de todas as europas. Ocupou-se em tirar fotografias dos boxes apinhados de apetrechos, os domésticos e aqueles pessoais, da individualidade da criatura ou da intimidade do ser humano. No mercado de tudo se encontra um pouco, a verdura e a fruta, a carne verde, como se dizia outrora e a carne de sol, curtida feito o queijo dos desejos daquele homem, o peixe fresco e o camarão das águas quentes do Atlântico. Melhor o miúdo, o sarapatel de encomenda ou a dobradinha exposta no balcão.
E assim, flanando, o sábado se esvai, ameaça com o domingo e a segunda-feira amanhece. O Natal chega e as elites se confraternizam, comem e bebem, dão gargalhadas enormes, enquanto os excluídos sociais choram a dor do vazio de todos os estômagos. E o Cristo, que é Deus, não nasceu numa manjedoura? Por que os pobres não participam do grande banquete da noite sagrada? Porque o homem desprezou o semelhante e dividiu em castas a sociedade! Há os incluídos, os ainda incluídos e esses, os excluídos de tudo!
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domingo, 15 de abril de 2007

Uma Vizinha Maravilhosa

O nosso cronista maior, Luiz Fernando Veríssimo, uma das penas mais lúcidas e mais saborosas do Brasil – Não se usa mais pena. Que pena! -, escreveu um artigo que leio em página da Internet: Uma Vizinha Maravilhosa. Falava de certa moradora há pouco chegada no bairro e que passou a ocupar um apartamento em frente ao seu. Uma mulher, como explica, que existe e não existe. Em outras palavras, para o escritor o cotidiano passa a ser uma mescla de realidade e de ficção, quando expressa o pensamento no papel ou como se costuma fazer hoje: quando materializado no écran do computador.

A partir daí assumi a condição de observador do meu entorno, sem desejar encontrar gente maravilhosa, mas interessado nessas rotinas domésticas, sobretudo aquelas dos finais de semana, nos quais há surpresas e fugas do repetitivo de todos os dias. Talvez os sábados e os domingos tenham mais utilidade do que as manhãs, as tardes e as noites dos chamados dias úteis, à exceção do que se assiste nas televisões do Brasil. Não importa imaginar, como Veríssimo, que a penitente faz tudo em função do vizinho mais antigo. Como na crônica do mestre, ela existe e não existe, tudo ao mesmo tempo.

Em prédio do tipo caixão, no segundo andar, depois de dois lances de escada, chega, pelas seis da noite em geral, uma criatura de seus quarenta anos. Mora só, já notei, mas muito raramente traz a sua companhia masculina. Jovem, bem mais novo que ela, cujo papel nos feriados é o de transitar em casa vestido em trajes menores. Ela abre as janelas todas como se precisasse de ar e vai ao banho. Sai do chuveiro às carreiras, com uma toalha enrolando a cabeça. Mulher bonita tem isso, envolve-se dessa maneira e deixa o resto a descoberto. Veste-se com uma camisola azul e vai assistir aos programas da telinha.

Vez ou outra desce e fica em frente ao edifício esperando alguém. Não se pode divisar bem se o acompanhante de ocasião é o mesmo dos feriados ou se não é. Parece não ser! Passeia, vai aos bares mais badalados ou assiste aos filmes em cartaz, mas cuida em voltar logo, pelas dez no máximo, pois amanhã é dia de branco, pensa. Cumpre o ritual de sempre e cai nos braços de Morpheu. O estado civil não se consegue esclarecer nesses contactos à distância, mas por certo é separada, sem filhos de um casamento efêmero, fortuito ou de um marido que não lhe soube apreciar os dotes físicos e intelectuais.

É do tipo pícnico, diria Lombroso, que teria uma paixão fulminante, se vivo fosse e por cá viesse. Baixinha e um tanto gorducha, cheinha melhor diriam, com destaque para um busto bem sucedido e cadeiras alargadas, como cumpre ser. Há pouco acrescentou umas gramas a mais e com certeza faz regime para resgatar pretéritos. Cuidadosa com a pele passa cremes e mais cremes no corpo, na face e nos braços, mas dedica-se à manutenção de sua performance glandular, fazendo movimentos circulares no tórax sempre. É fácil notar que usa condicionador do bom, importado, quiçá.

Nos feriados nunca dispensa a música mais antiga, as de Nelson Gonçalves especialmente. E Dolores Sierra ganha os ares da rua e todos já sabem, até as crianças, que nascida em Salamanca, cumpriu a rudeza da vida na beira do cais, em Barcelona, como tantas que vi. Há até quem brinque e indague: “Onde nasceu Dolores Sierra?”. Toda gente conhece a resposta! Ao que parece sente falta do pai, porque não deixa de ouvir uma letra a propósito dessas ausências sofridas, com toda certeza, na orfandade: “Naquela mesa/Está faltando ele/E a saudade dele/Está doendo em mim/...”. Dói mesmo! E como dói!

Toma uma lata de cerveja, cuja marca não se pode identifica saber de longe, depois dorme como uma justa diante do Criador e só acorda pelas cinco ou seis horas. Perde o sono da noite, porque com o passar dos anos o travesseiro fica ingrato, cansado, talvez, de acolher e acalentar. Por isso, arruma o guarda-roupa e nunca vi tanta peça de vestuário sendo posta e reposta ou exposta nos cabides e nas gavetas. Há lugar para tudo, imagino, para aquelas de maior luxo e as de seu cotidiano. Quando termina, a noite vai alta e não existe opção diferente do simplesmente deitar e dormir ou madornar, como dizia a minha tia velha.

E assim vai. Existe e não existe!

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segunda-feira, 9 de abril de 2007

Folhas Secas

Li e reli a carta de uma senhora alemã de 79 anos à sua nora, pernambucana deste rincão e tirei dali lições que vou guardando para o meu doravante. Diz a missivista que vive o outono da existência, sentindo a lentidão a lhe tomar o todo, pouco a pouco, no pensar sobretudo. Mas, recomenda com sabedoria à jovem nora que guarde os domingos para o Criador ou os reserve à família. E conta que em seus passeios aos bosques germânicos, vez ou outra, recolhe uma folha solta ao vento, largada ao léu. Nota que é seca, amarelada, embora traga, sempre, pequenas manchas verdes, as quais desaparecem depois de guardada por entre as páginas de um livro qualquer. A dona Ângela Efken, certamente, não imaginava que um aprendiz de cronista fosse tomar as reflexões de sua missiva e aproveitá-las em ocasião assim, de recolhimento d'alma e meditação do espírito, num domingo qualquer de tropicalidade aflorando. Uma reconciliação com o sentimento, então!

Eis a plenitude da idade, o ápice da experiência existencial! Foram anos e mais anos contados em décadas reunindo vivências e convivências, convívios, afinal, sintetizados assim, num filosofar, posso dizer doméstico, a sagrada forma de se apontar veredas a serem seguidas, caminhos a percorrer e estradas a passar. E é nesse outono ou nesse ocaso e nunca por acaso que o conhecimento do dia-a-dia, das práticas de vida, deve ser transferido, mesmo que haja a lentidão no gesto ou mesmo que o ato e o fato de pensar exijam um desusado sacrifício. A maturidade tem isso, traz o dano e a debacle, o declínio, pois, mas promove a serenidade e a paz, permite que a reflexão conduza os destinos e inibe a pressa irrefletida, tão comum na juventude e uma constante, quase, na adolescência dos anos. E a dona Ângela Efken enaltece a família, a célula mater e recomenda Deus, que é tudo, a concórdia e a humildade, a harmonia e o sossego.

A lição maior, todavia, está nas folhas secas recolhidas ao léu, nas gélidas paragens germânicas, todas com manchas verdes e que murcham quando deixadas por entre páginas de livros. Toda gente, do começo ao fim dos tempos, preserva nos interiores marcas assim, do viço e da força, para se alevantar dos baques ou para superar obstáculos, pedras do caminho e percalços nos atalhos da vida. Há sempre um recomeço! Uma mudança, uma transformação, a metamorfose da criatura, numa readequação aos cenários da existência! Verdadeira reengenharia humana! Ninguém, todavia, deve se encolher e restar prisioneira, de si ou dos outros, sob o risco de murchar, de perder o brilho e a cor, de se tornar um nada, que a nada pode criar. Só a criatividade realiza o homem, porque o aproxima, mais e mais, do Criador, que fez a tudo e a todos, que estabeleceu as leis da natureza e sustenta o Universo em sincrônicos movimentos de rotação e translação.

Viver é um exercício difícil, uma sucessão ou uma alternância de ganhos e de perdas que inquietam profundamente o ser. Há uma cruz reservada a cada um! Algumas mais pesadas, lenhos de madeira bruta, à semelhança de rochas, que tornam a trajetória penosa e sofrida, que abrem incuráveis chagas! Outras, mais leves! A criatura, porém, enfrenta tudo isso, vai contornando momentos e dando a volta em minutos, desespera-se e chora o pranto sentido, rasga-se em lágrimas e parece sucumbir. Sente-se, por vezes, um palhaço no picadeiro da vida, arremedando humores que não tem e achando graça no nada do nada! Reconhece, afinal, as dificuldades da hora e se ergue! Há, sempre, um sorriso guardado, uma expressão de afeto reservada e um afago emergente! Aos que foram melhor aquinhoados e cuja aflição é menor, que não cumpriram a paixão e a morte, cabe compreender, entender a inquietude alheia, sem exigências, pois.

O verde da esperança há de vencer a palidez amarelada dos fracassos estabelecidos e das ruínas sentidas, afastando as ameaças do cinza de todas as derrotas e do preto de outras desgraças funestas.

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sexta-feira, 6 de abril de 2007

Manhã de Domingo

Bucólica manhã esta de um domingo qualquer, em tudo tropical. Mês de maio, mês das noivas, das mães e dos ventos, dos terços e das novenas. Velhas fruteiras do Rosarinho, mangueiras antigas de boas mangas, jambeiros e oitizeiros que se juntam e abrem os galhos em sincrônicos movimentos das despedidas medidas, nunca pedidas, de um final de semana gostoso, saboroso até. Na minúscula praça - um refúgio, como aprendi - em frente ao prédio os peões da construção estão fiando conversa, matando o tempo do lazer fora de casa. Ocupam os três únicos bancos, mas cedem lugar à figurante feminina que chega, se aconchega e vem compor a cena desse espetáculo sem roteiros. De longos cabelos pretos, estirados e viçosos, penteados a óleo, faz as vezes de interprete da sedução nessa encenação de ocasião. O moço que passa com a gaiola na mão aprisiona sonhos ou vai encarcerando devaneios e assim, com o imaginário contido, restringe as fantasias e inibe as divagações.

O vagabundo aproxima-se da praça a passos lentos, como se estivesse calculando distâncias, mesmo conhecendo na palma da mão esses entornos. Escolheu um dos bancos e estendeu no encosto o paletó surrado, sentando-se em seguida, não sem antes acomodar a seu lado a caixa de leite cheia de revistas. Abriu uma dessas e passou rapidamente as páginas, detendo-se aqui e ali numa foto qualquer, sem que lhe importassem os textos. Retratos da sensualidade feminina à vista de um homem como outro qualquer, diferenciado, apenas, pela condição humilhante do analfabetismo, que impede a cidadania. O cão ajeitou-se no chão, abriu a boca preguiçoso, fechou as pálpebras, jurando fidelidade que tantos não conhecem e quase ronca. O passante, que empurrava a carroça repleta de latinhas usadas, com o filho a lhe ajudar no ofício, decidiu parar e descansar também. Tirar um deforete, diriam os antigos!

Cumprimentaram-se e um diálogo nasceu! O nômade falava e gesticulava, argumentando com segurança, explicando as suas idéias e os seus ideais. O interlocutor de ocasião retrucava o quanto podia, discordando, então, do pensamento alheio. A criança, absorta, acompanhava os dois na conversa, sem compreender bem de que falavam e o que discutiam. Não houve acordo e o moço forasteiro se alevantou, virou-se para o menino e fez o gesto universal, tocando a têmpora com o indicador da mão direita: É doido! E seguiu em frente, voltou à faina da reciclagem do alumínio, garantindo a féria. Outra vez o homem errante abriu uma revista, folheou com a mesma rapidez e se deteve na visão da nudez! O menino de rua, cheirando cola, quase senta no banco, não fossem os latidos do cachorro. O cavalo que passou pachorrento, como cabe ser aos equídeos, nem ligou para os dois, mas por pouco não provocou um acidente grave, não fosse a precisão dos freios.

O prédio em frente vai se compondo aos poucos, tijolo por tijolo, parede por parede e andar por andar. Acolhe no quarto pavimento os peões do interior, tangidos da cana-de-açúcar, largados da bagaceira. Em baixo, o vigia vem atender à porta a mulher que bate e toca a sineta. É a esposa a conferir destinos! Não se abraçam e nem se tocam, não há afagos e nem afetos, somente a troca de palavras, que se tornam inaudíveis nos ares da rua. No edifício ao lado a festa já começou, os músicos tocam saudosos acordes de orquestras românticas, mas fazem, em seguida, outra opção. Há uma cantora entre os presentes, mulher cinqüentona ao que parece, a entoar "Bandeira branca/Amor/Eu quero mais/Pela saudade...", para depois preencher o mundo com a maviosa letra que Nelson Gonçalves consagrou: "Minha normalista linda/Rapidamente conquista/Meu coração sem amor..." Resgate, por certo, de perdidos e encantados pretéritos!

E a hora vai passando, porque o tempo não pára, sequer em momentos assim, de enlevo d’alma! Os ponteiros se abraçam e despedem a manhã, comemoram o nascer da tarde e anunciam que a noite vai chegar e outro dia surgirá, recomeçando o tudo. O doidinho da rua há de voltar e declamar a agourenta rima, para desespero dos peões: "Se você cair!/Não vai se ferir!/Nem ficar em pedaços!/Estarei aqui para segurá-lo nos braços!" Ouvirá o que não quer e outra vez gritará a plenos pulmões: "Se você cair!...".
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