segunda-feira, 20 de maio de 2013

Viagens e diálogos

Passei um tempo de minha vida viajando muito. Eram compromissos de todo tipo e lá ia eu. Isso era muito cansativo, porque cheguei a ir e voltar no mesmo dia em diversas ocasiões, às vezes à Brasília ou ao Rio e até à São Paulo. Não é brincadeira decolar e pousar de retorno no mesmo dia! Certa vez, tomei um avião da falida Transbrasil e era uma fase em que ainda tinha medo de voar, de tal forma que um colega da Paraíba, que encontrei por acaso, me gozava o tempo todo. Até que o avião sofreu uma queda de 500 metros e o piloto avisou que fez isso para consertar o ar condicionado, quebrado desde a partida. Não preciso dizer que ele quase teve um desmaio e eu fiquei com muito cuidado nele.
Esse meu companheiro de voo ficou de tal forma nervoso, que me perguntou o que deveria fazer? E eu fui definitivo: “Não há nada a fazer, senão dançar um tango argentino!”. E ele só não me deu um cascudo, porque tinha comigo uma amizade antiga. Mas, eu complementei a resposta e disse-lhe: “Enquanto isso, isto é, enquanto não batemos as botas, vamos ao fundo da aeronave tomar uma cerveja bem gelada!”. E fomos mesmo, encontrando um comissário apavorado, querendo saber o que havia: “Ora, meu senhor, se o senhor mesmo não sabe, imagine nós outros, pobres mortais, passageiros nessa viagem!” E uma freira, que rezava sem parar, me viu falando muito e indagou: “O senhor acredita que seja mesmo o ar condicionado?”. E eu: “Olhe, minha senhora, com todo o respeito que a senhora merece, eu tenho um aparelho desses quebrado e quando chegar hei de jogá-lo do telhado em baixo!”. Não obtive resposta!
De outra feita, tendo feito a viagem conforme planejara, sem turbulências e sem novas ocorrências, encontrei um pernambucano, desses bem irreverentes e ouvi dele a afirmativa de que ficaria comigo no quarto. Não gosto disso, sou um camarada que dorme mal, passo as noites insones e não gosto de incomodar ninguém, disse-lhe.  Não adiantou! Tomamos o táxi juntos, preenchemos as fichas do hotel e subimos ao quarto. Íamos passar dois dias, mas ele desarrumou a mala e perguntou se eu tinha esse hábito. Não tenho, prefiro ir tirando aos poucos da maleta e usando. Depois, vou recolhendo de volta as peças. Quando foi dividir a conta, confessou que pecara. Que pecado foi esse, indaguei? Tomei a champanhe francesa do refrigerador. Ufa, quase digo!
Mas, era tarde da noite, quando bateram à porta do quarto e à pergunta de quem se tratava, explicaram: “É a pizza!”. Não tínhamos pedido nada, já estávamos deitados. O meu acompanhante era apavorado e decidiu chamar a Portaria do hotel. Resultado, subiram dois seguranças que mais pareciam os guarda-roupas de minha avó Laurinda e tudo foi esclarecido. Um cantor, hospedado ao lado, pedira o jantar e dessa forma se resolveu o impasse quase alimentar. Tive vontade de pedir uma fatia!