terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Noite de Natal

O ano vai findando, repetindo, como sempre, as datas. O Natal e depois a noite de Ano Novo. Isso é bom! Ou isso não é bom? É bom, porque 2013 foi um período pródigo, me fez produzir o que pude em termos intelectuais e já nos estertores ser admitido como sócio no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, organização sesquicentenária, à qual pertenceu o meu pai. E não foi bom, em função das perdas que tive: a um só tempo se foram a minha mãe e a minha sogra. Ambas com a idade muito avançada e sem a desejada preservação da consciência. É o primeiro ano, pois, que passamos, eu e minha mulher, com a orfandade completa.
De outra parte, porém, casamos a filha mais nova, sem pompa e sem circunstância. Isso é bom e é ruim! Bom, porque ela foi complementar a vida com um rapaz a quem ama, assumindo uma nova família, uma casa e um cotidiano diferente. E foi ruim, porque é a prova contundente de que estamos ficando velhos ou mais, especificamente, eu estou chegando perto da finitude. Já não temos mais ninguém em casa e quando nos sentamos a sós e conversamos, concluímos sempre que cumprimos a nossa missão. Enfrentamos uma vida dura, difícil sob todas as óticas e criamos as três filhas dentro dos padrões da ética e da moral, sem precisar de subterfúgios e de conselhos hipócritas ou de fingimentos, de mentiras.
Estamos agora os dois novamente, como no começo das coisas. Como existe amor, temos essa segurança de um convívio satisfatório, de uma convivência plena. Penso que posso dizer que estamos felizes, absolutamente certos dessa continuidade nos filhos e agora nos netos, em Pablo que cresce e está na Espanha e Júlia, que brinca, nos seus 9 meses de vida, engatinha e não apenas atende pelo nome, como também já conhece o avô e a avó. Deus os proteja na vida que hão de ter.
A véspera de Natal é também de lembranças, de saudades do que se viveu. Tenho na cabeça, claramente, aquele dia em que acordei e disse a meu pai que tinha visto o Papai-Noel em meu quarto. Foi quando ganhei de presente um carrinho conversível, preto, com os bancos de galalite vermelhos. Galalite era um tipo de plástico, um precursor talvez do plástico de hoje, em desuso. De outra feita, ganhei uma espingarda, à qual o meu pai chamava de manuliche e com a qual atingi muita gente com as rolhas. E por ai vai!

A Festa da Mocidade era parada obrigatória de todos quanto naquela rua, metade Santo Amaro e a outra metade Boa Vista, passavam a Missa do Galo no Colégio Nóbrega. Depois das orações ou depois da paqueras com as meninas da rua, era o Pastoril que imperava, presidia o espetáculo. O velho Faceta comandava a dança e era permitido pagar para ver a mestra ou a  contramestra dançando. Gente com pernas grossas, coxas de dava gosto a qualquer espectador de ocasião. Tudo com a maldade dosada, nem mais nem menos. O padre ouvia a lamúria das fantasias e dos gestos e perdoava.

Por ai vai!

  

sábado, 14 de dezembro de 2013

Os sinos e a ceia

De minha varanda descortino ao longe uma enorme árvore de Natal. Imagino que seja no bueiro da tacaruna. Não é! Não pode ser! É em outro lugar qualquer do hoje dos dias. A antiga, a que estava habituado a ver em minhas andanças, acima e abaixo, era do tempo de minhas filhas ainda pequenas. A mais velha dizia assim: “A ‘cacauna’ painho, a ‘cacauna’!”. E eu passava duas ou três vezes diante da chaminé iluminada. Foram anos fazendo isso, a cada dezembro e a cada novo janeiro. E essas lembranças são apenas recordações de um tempo que se foi!
 
Hoje tudo está bem diferente e é bom que esteja assim. Tenho por cá dois netos, nessa contabilidade da expansão parental. Um, com quatro anos, às vésperas dos cinco, foi à

Espanha resgatar as origens e rever os avós; os avós e os tios. A prima Isabela também. Já o vi nos braços da avó paterna dormindo, com a mesma intimidade que tem por cá.

Os sinos dobram e eu não os ouço mais. Estão muito distantes de mim. Só as mensagens que me chegam pelo celular trazem esses acordes mágicos do Deus menino. São reflexões necessárias do amor. Do amor que a fraternidade exprime. Nisso, a caridade, a maior de todas as virtudes, preside a cena dos esquecidos; dos esquecidos e só muito raramente lembrados. São os nossos irmãos menores, relegados ao nada das coisas, sem o pão de todos os dias e sem a ceia que há de juntar a família.
A minha filha segunda, Patrícia de prenome, já disse que tem uma cartinha de uma criança ao Papai-Noel. O que pede essa missiva infantil? Hei de comprar, seja muito

ou seja pouco!

minha filha mais nova, Ana Carolina, há de casar muito brevemente, antes que a sonoridade decrete o Natal. Faz essa união e não deseja festa, vamos jantar, todos juntos, a família dele e a dela, para abençoar esse casal que chega para o deleite da vida a dois, um banquete que faço votos vá ao tempo que o meu casamento já foi, 43 anos se pouco.
Deus abençoe a todos, a filhos e netos. Feliz Natal aos amigos e leitores.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Quatro décadas e meia

Algumas das esposas
Os 45 anos de formatura não poderiam ter sido melhores, porque se revestiram de um sentimento que me é muito caro: a afetividade. A afetividade e a proximidade marcaram os nossos dias, desde a quinta-feira, quando aconteceu a Missa, celebrada, aliás, por um jovem padre, sintonizado com a representação social da profissão de médico. Eu fiquei tão sensibilizado com o sermão do sacerdote, que comunguei. Não sei se fiz bem ou se fiz mal, mas a verdade é que me senti satisfeito e assim permaneci. Fui depois ao púlpito, por insistência dos colegas, e falei de nossa sagrada missão, a de salvar vidas e lembrei, atendendo ao padre, das inúmeras criaturas que passaram por nossas mãos.
Depois, em Porto de Galinhas, desfrutamos de três dias de aconchego, entre os nossos, pela manhã, à tarde e à noite. Que beleza, fiamos conversa esse tempo todo, lembrando, no mais das vezes, o que ficou de pitoresco de nossos convívios. Histórias engraçadíssimas, como aquela de uma prova oral e da pergunta de como se divide o pâncreas. O aluno, que não sabia de absolutamente nada, respondeu na chincha: “Cabeça, tronco e membros.”. Mas, o professor não ficou atrás e deu-lhe a contrapartida: “Leva ele e coloca numa bicicleta e vai dar uma voltinha por ai.”. Só nesse momento, no encontro, revelou-se a razão do apelido de Al Capone: por ser das Alagoas, terra de gente braba.
Com o padre na capela do Hospital
Pedro II.
Até de um piparote que deram no testículo de um colega e que lhe provocou um desmaio, lembraram. Sem falar no cognome de outro, Tripé; alcunha que não se confirmou, quando se viu o penitente nu, em pelo, como veio ao mundo. Numa prova oral de psiquiatria, o professor indaga ao aluno: “Meu caro: chega um doente na urgência com sinais nítidos de comprometimento mental, agressivo, o senhor o que faz?”. O aluno responde: “Amplictil, professor!”. Mas, o mestre insiste que não resolveu e o nosso examinando diz: “Um coquetel!”. Mas, isso, também, não satisfaz o mestre, que insiste mais ainda. E o aluno não tem dúvida: “Professor! Doido também apanha!”.

No púlpito - quase o padre!
A mais engraçada, porém, foi o esclarecimento definitivo dos motivos para o apelido de Marcelo Caçola. O nome é fictício, por hesitação de minha consciência. Mas, disseram que ele subia o elevador de anatomia e de repente uma colega, que hoje é uma médica conceituada, abriu a bolsa. Ele, então, ficou olhando fixamente e a doutora reclamou, com justa razão. Foi quando ele disse: “Só tem caçola!”. E por caçola ficou até os dias que correm. Um outro colega, já falecido no hoje dos dias, andou dificultando a subida desse mesmo elevador. Ai um circunstante aborrecido disse: “Elevador de defunto é outro.”. Como realmente era. E por defunto foi conhecido enquanto viveu!    
Mais do que tudo isso foi aquela da prova oral de bioquímica, na qual o professor indaga ao estudante: “Descreva o Ciclo de Krebs?”. Uma complexa rota metabólica utilizada pelo organismo humano para promover a oxidação e a degradação das substâncias nutrientes. O rapaz não sabia de nada e aproveitou a passagem na rodovia de uma carreta repleta de veículos para comentar: “Professor! Veja uma carreta cheia de fuscas.”. E o mestre, do alto de sua sabedoria, disse: “Nem de carro você entende! São automóveis da Crevolet.
E por ai vai!