sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Peripécias no Colégio


Recebi um e-mail de colega com quem convivi nos anos noventa. Elogiava o Blog, o qual, como me pareceu, ainda não conhecia. Gostara das crônicas que lera e me sugeria escrever sobre experiência que sabia dos meus anos de menino; anos de muitas traquinagens, ainda hoje inscritas nos Anais dos meus colegas de bancos escolares. Respondi, como cabe fazer, antes de me dispor a cumprir o que pede a minha ilustre missivista, remetente dessa forma eletrônica e moderna de comunicação. Vou, então, narrar por aqui algumas de minhas peripécias no Colégio Nóbrega, de tantas lembranças e de tantas saudades. Ela, na verdade, me deu um mote e eu vou cuidar em explorar o tema. Redijo essa crônica e mais outras.
Lembro de logo do padre, professor de geografia, que sendo muito atencioso e muito delicado, convocou-me à chamada oral, uma forma de tentar punir um mal feito qualquer, uma palavra fora de hora ou uma indisciplina que ferisse o regulamento da instituição. Convocado, fui à lambança:
- Geraldo! Fale sobre a Alemanha.
Comecei falando sobre Leonel Brizola, que vinha começando a se destacar nos estados do Sul. E ele:
- Pedi que falasse sobre a geografia da Alemanha.
- Sim! Claro! Começo por Leonel Brizola, porque sendo do Rio Grande do Sul, nasceu em estado no qual existem muitos alemãs e eu devo fazer uma ponte, para depois chegar ao ponto que o senhor deseja.
E fui por ai, até chegar a Hitler e à Segunda Guerra Mundial. Isso fez o homem irritar-se profundamente e advertir, mais uma vez:
- A matéria é geografia! Nota zero! Retire-se da sala e compareça à diretoria.
E assim foi feito!
Ai pelas 10:00 da sexta-feira era de bom alvitre se confessar. Os que confessavam e comungavam na Missa do domingo, às 7:30 horas, eram vistos com bons olhos. E como eu era extremamente mal visto, não era demais ajoelhar-me no confessionário. Escolhia, pelo geral, um padre gordo, obeso, que dormia a sono solto, sentado naquela casinha de madeira. Eu, ajoelhado, desfiava a lista de pecados que tinha. Quando terminava, cuidava em acordá-lo e aguardar a absolvição. Vez ou outra, porém, ele me ouvia e não cansava de repreender:
- Outra vez! O senhor não se emenda! Vem toda semana dizer a mesma coisa! Isso é uma pouca vergonha! O seu pai sabe disso?
Era uns pecados bestas, coisa de adolescente despertando pra vida e para o sexo. Mas, o tempo era outro e a rigidez comandava o espetáculo da vida. E eu nunca me emendei!
Mas, a história que me pediu a colega dos anos noventa é essa agora. É que no último ano do curso, com as coisas mais liberadas, o professor de português mandou que fizéssemos uma redação e o tema era livre, à escolha do aluno. Escrevi uma lauda e meia de papel pautado, dando o título de “O meu enterro”. Cuidei em oferecer ao leitor – um único leitor: o professor – os detalhes dessa imaginária história. Mostrei que os familiares procurariam a Casa Agra e imitei o som da buzina chegando à minha casa: “Fonfom. Fonfom. Fonfom.”. E o pior ou o melhor: eu queria todo mundo nu. E o mestre, muito bom professor, com medo talvez dessa manifestação fúnebre em menino tão novo, deu zero e me chamou a atenção.   
- Menino! Você tem a vida toda pela frente! Não gaste o seu tempo e a sua pena com a morte.

E por ai vai!


(*) Não sei se atendi à leitora, porque a história apenas narrada, isto é escrita, é bem diferente daquela que se tem no fiar de uma conversa. É mais fácil falar que escrever. O leitor que desejar comente no espaço mesmo do Blog ou o faça para o e-mail pereira.gj@gmail.com