domingo, 4 de março de 2012

Antigas Carroças de Velhos Mascates

Acordei muito cedo, com o relógio marcando 3:20 horas. Mas comigo é assim mesmo, sou de me recolher com as galinhas quase e de me levantar antes que o galo cante. Essas expressões caíram em desuso, porque a globalização da economia e a mundialização da informação fizeram desaparecer os galinheiros das moradias. Outrora, casa que se desse a respeito não dispensava uma cerca no fundo do quintal e o concurso de penosas poedeiras, trazidas da feira do bairro, para abastecer de ovos a família e garantir o almoço domingueiro. Galinha ao molho pardo se dizia ou apenas guisada, à moda dos nossos avós. Hoje não, nos apartamentos da classe média não cabem mais essas antigas dependências e mais do que isso, o dia reservado ao culto é também a ocasião para se fazer a refeição fora de casa. Não há mais quem faça o almoço ou o jantar!

Mas, acordei assim, tão cedo e me sentei na cama, porque tinha visto na parede uma luz frágil, que parecia caminhar sobre a peça de alvenaria do quarto. Pensei que estava com uma alucinação em curso. Passei as mãos nos olhos, abri as pálpebras e confirmei. Era isso mesmo! A luzinha muito fraquinha se deslocava acima e abaixo no meu quarto de dormir. Acendi uma luz mais forte, a do telefone celular, que também se presta à essa função auxiliar, isto é, a iluminação para melhor esclarecer uma aparição como essa, não identificada. Era somente um vaga-lume e eu estava em Aldeia, onde ainda aparecem esses insetos luminosos. Lembrei de minha avó paterna, que nos tempos de boa visão me mostrava esses bichinhos no Recife, onde já houve um passado diferente dos dias que correm.

Hoje não, a cidade está preenchida por prédios e mais prédios, verdadeira selva de pedra e não se tem mais nada que possa lembrar o outrora dos anos. Quando era menino, bem menino, numa abertura que havia no piso do terraço de casa, se escondiam caranguejos que escapavam da panela e cágados aparecidos ninguém sabia de onde. Tanajuras em revoadas das núpcias caiam de pesadas e eram selecionadas para uma fritura nas caçarolas da cozinha, contando sempre com a parceria das domésticas, que eram, quase sempre, mulheres tangidas da bagaceira pela monotonia de um vegetal só: a cana-de-açúcar. Tempos em que o mascate passava em carro puxado a cavalo e que o amendoim era vendido em balaios às costas. Sobre isso, sobre os velhos pregões, Fred Monteiro, que escreve no Jornal Besta Fubana, tem texto e cantoria de muito boa qualidade.

É dele a alusão ao “gringo da prestação”, que vendia de um tudo, inclusive as antigas sianinhas, um nome que sempre me pareceu delicado e feminino; feminino no sentido da meiguice que caracteriza a mulher. E os cartões de botões de todas as cores e de todos os tamanhos? Não estou lembrado de “Mané do Palito”, mas tenho na cabeça exatamente a figura de “Chá Preto com Pente”. Vale à pena o leitor conferir a música de Fred, intitulada: “Mascate das Lembranças“. Passo aqui o link da cantoria: http://www.luizberto.com/mascate-das-lembrancas-fred-monteiro/mascate-das-lembrancas

OBS: Por oportuno, explico que os comentários ao último texto, os quais ultrapassaram as minhas expectativas, ficaram retidos no espaço do Blog; espaço digo ao qual somente o administrador (autor) tem acesso, razão para não tê-los publicado de logo. É interessante, porque escrevi aquelas linhas achando que não ia ter muita conexão pássaros e bicicletas, mas vejo que foi o contrário: teve. Gostaram!