sábado, 28 de novembro de 2009

Matemático a Postos

Um doido é um doido, nada mais que isso, não se pode confiar. Pois é, já vi o mestre Ariano Suassuna dizer – já disse também por aqui – que em todo lugar que se preze há um doidinho de plantão. É verdade! Na rua em que morei havia um com o cognome de “Por quê?”. É que passou a vida inteirinha – nem sei dele agora – indagando das pessoas as razões e os motivos de tudo. Até que certa vez, encontrando um pintor que caiava as paredes da velha fábrica TSAP, perguntou: “Estás fazendo o quê?”. Ao que o trabalhador solícito respondeu: “Estou pintando a parede!”. Mas, o nosso protagonista de agora insistiu: “Por que estás pintando a parede?”. O homem do pincel de forma paciente acedeu em responder: “Porque o dono mandou!”. Ouviu, todavia, nova indagação: “Por que o dono mandou?”. O pintor não teve dúvidas, desceu da escada tesoura em que estava e deu uma mãozada no figurante dessa história, pelo que ficou o dito pelo não dito. O menino – era um menino! – voltou para casa chorando.
Pior do que isso foi o chamado que recebi para atender um doente em hospital de psiquiatria. Tinha chegado com um distúrbio do comportamento – urinou na sala de casa –, sendo internado por isso. Mas, não acordava de jeito nenhum! Entrei no quarto e dei o diagnóstico pelo cheiro do ambiente. Parecia que tinham impregnado o lugar com vidros e vidros de amônia. Era como se aquilo lá fosse um banheiro, no qual a higiene era precária ou nula. Tratava-se de um coma hepático, o paciente fora operado e tinha feito uma anastomose – ligar um vaso a outro – da veia porta à veia cava. Essa anastomose porto/cava era também conhecida por porto/cova, porque os doentes morriam com elevada frequência. Tirei a aliança para lavar as mãos e a esqueci na pia do hospital. Veio um doente qualquer e levou a argolinha de ouro. Era noite alta e quando cheguei em casa contei a história. Não precisa dizer que ninguém acreditou na minha versão. Lembrei de um médico que flagrei no Parque 13 de Maio, no interior de um carro da marca Skoda fazendo um esforço enorme para tirar a sua aliança da mão esquerda, enquanto fiava conversa com uma normalista. Quase ajudo!
Noutro hospital, assim que entrei e comecei a falar, uma mulher que estava tomando banho gritou: “Doutor! Case comigo!”. Respondi com uma evasiva qualquer e continuei o que precisava fazer. Fui surpreendido depois com um abraço dessa criatura, a qual completamente nua me agarrou e me molhou dos pés à cabeça. “Case comigo! Case comigo!”. Era só o que dizia. Calma, minha senhora, expliquei, preciso juntar as minhas coisas, para seguirmos juntos e casarmos na primeira igreja do caminho. Desse jeito me livrei do momentâneo assédio. Veja só o leitor! Essa história de querer casar a todo custo vi e ouvi muitas vezes, quando ia a um desses hospitais, sobretudo no Hospital da Tamarineira, onde havia um recreio, um pátio no qual as internas se juntavam e perambulavam, algumas nuas em pelo e outras quase assim, mas gritando muito: “Case comigo! Case comigo!”. Que psicose era essa, não sei!
Mas, eu estava no 5º ano de medicina e apareceu na sala de aulas, no chamado “teatrinho” um camarada estranho à turma, doido varrido. Nesses momentos, da forma mais natural possível, um grupo se acercou do novato e passou a puxar conversa. “Quem era? De onde viera? O que queria? O que fazia?”. Do primeiro ao sexto ano, dizia, com toda ênfase, sabia de tudo. E ia demonstrar a sabedoria dele: “Atenção colegas! Atenção colegas! Dois mais um é igual da três e três menos um igual a dois, pelo que se obtém o primeiro número!”. Ou seja 2+1=3 e 3-1=2 Há quem possa com uma coisa dessa! Era um matemático a postos, então!
Uma crônica de algumas vivências e de outras convivências. Comente no espaço mesmo do Blog ou o faça para pereira@elogica.com.br ou ainda para pereira.gj@gmail.com

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

As Mesmas Águas Transbordo

Confesso ao leitor que já vi de tudo nesse mundo de meu Deus. Vi o que o diabo duvida de costas, sobretudo no campo da parceria conjugal. É que morei no bairro de Santo Amaro das Salinas, onde havia uma vila operária e ali residiam os meus amigos de menino e as minhas amigas desse mesmo tempo. Pois foi justamente por lá que assisti um doido se meter na vida de um casal, imiscuir-se na moradia dessa família e dividir o leito conjugal com os dois parceiros de cama. A turma nunca dispensou uma gozação em cima do caso e de logo apelidou o homem de seu Cornélio, caçoando com a pobre criatura, cujo sofrimento ninguém cuidou em se incomodar. Depois, ficou o dito pelo não dito, porque com doido não se brinca, nem depois que ele tira o time de campo.
Mas vi, também, o grande amor de Cururu Pei Pei por uma das moradoras do lugar, por uma moça bonita e bem parecida, bem feita de corpo, com um rosto belo e um corpo arrumado. O nosso batráquio foi rejeitado pela família e a jovem namorada encerrou a aproximação, a qual, à época, era bem diferente dos tempos que correm. Foi quando apareceu o Lambreta, que se encantou pela jovem bem parecida e bem feita de corpo, recebeu da genitora viúva a desejada aprovação e terminou noivando com a penitente. Antes de casar, no entanto, fez uma despedida de solteiro pra ninguém botar defeito, reuniu toda gente em bar conhecido no Recife, nos domínios do Parque 13 de Maio, com o sugestivo nome de Cabana. Foi uma farra nunca vista nos limites da localidade.
Quando a manhã ia chegando, encobrindo as trevas, era o Dia de Finados que se anunciava e eu não perdi tempo: “Tinha uma promessa a pagar no cemitério!”. Inventei isso, porque precisava de uma saída honrosa para me retirar, mas a turma – hoje seria galera – não me deixou comparecer sozinho ao campo santo e toda gente se levantou atrás de mim, em verdadeiro préstito pelas ruas ainda escuras, em direção do lugar sagrado. Chegamos lá todos juntos e o velho portão de ferro ainda estava fechado, mas eu que me encontrava prestes a pagar uma promessa, cujos detalhes não tinha de cabeça, inventei para o porteiro a minha necessidade de entrar urgentemente, em função de graça alcançada. O homem abriu a exceção e nós perambulamos entre as alamedas que amanheciam com o dia, até que ficasse paga a dívida com os céus.
O nosso Zé Umbigo de Banana Oca fez pior, preparou o casório, não chamou ninguém para a cerimônia e muito menos para a despedida de solteiro, a qual, como imagino, sequer sucedeu. O padre marcara a união para as 18 horas, rigorosamente, chovesse ou fizesse sol. Sucede que às 14 horas decidiu-se por me consultar – eu já estava no final do curso médico –, razão para interromper a minha sesta, o que mais prezo na vida. Desci de meu poleiro, pois que dormia em cama de beliche e ouvi a sua dúvida: “Como proceder com a noiva durante a lua de mel?”. E justificava a indagação com a explicação de que consultava um amigo quase formado já. Ora, eu não sabia de nada dessas coisas, era solteiro e naqueles anos não se podia ter experiência de coisíssima nenhuma. Recomendei que mantivesse a calma e não fosse com muita sede ao pote. A verdade é que parece ter dado certo, pois foi logo pai de duas filhas bem afeiçoadas.
Quando de meu casamento, a igreja foi decorada por minha sogra e eu fiquei por lá bisbilhotando as coisas. O sacristão era uma figura ótima e eu resolvi elogiar a sua performance, dizendo: “O senhor é um grande sacristão!”. Ele gostou do elogio e quis retribuir, verbalizando em alto e bom som: “As mesmas águas transbordo!”. Isto é: da mesma forma, do mesmo jeito. Eu adotei a sua resposta como mote e sempre que posso agradeço desse jeito: Como dizia o sacristão da igreja da Soledade: As mesmas águas transbordo.
Desejando comentar use o espaço mesmo do Blog ou escreva para pereira@elogica.com.br ou ainda para pereira.gj@gmail.com O meu livro - Histórias Pitorescas de um Reitor - está à venda na Livraria Cultura, na Livraria Saraiva e nas lojas da Imperatriz.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O Palavreado Matuto

O linguajar interiorano típico, aquele que estava habituado a ouvir nos meus anos de menino e nos meus tempos de adolescente, convivendo com as empregadas de casa, em grande maioria tangidas do massapé garanhão, para repetir o que diz o sociólogo de Apipucos (Gilberto Freyre), desapareceu, terminou vencido pela padronização das palavras e das frases do falar global. Empregadas tangidas, sobretudo, por se perderem nos folguedos da bagaceira, onde prevalecia a força do mais forte e vencia a sensualidade da beleza ou a astúcia das manhosas desde o congênito da vida. Não vejo mais quem diga “vosmecê” ou não ouço mais ninguém dizendo “e a pois”. Pior ainda o velho “pro quê” das indagações matutas. Ou então: “Avia menino! Vai “precurar” o brinquedo perdido!”. Ou ainda: “Deixa de ‘avexame’ menino danado!”.
Quando era jovem médico no Hospital Pedro II, o mesmo de meu parecer no Conselho Estadual de Cultura, tombando-o e o mesmo de um trabalho científico que venho brunindo faz mais de um ano, ouvi muita coisa que não se escuta mais. Não raramente a doente matuta abria o diálogo dizendo: “Sinto um incômodo na mãe do mundo!”. E eu não sabia, de começo, que a “mãe do mundo” nada mais era do que o útero, o depositário sagrado da vida. Quando o padecer era mais adiante, não hesitavam em verbalizar: “Estou doente das partes mais vergonhosas!”. Oh! Quanta ingenuidade ou quanta pureza ou quanto pudor para expor a própria doença! Que vergonhoso que nada, quase dizia!
Um homem, certa vez, me procurou no ambulatório e expressou em alto em bom som: “sofro da tripa gaiteira”. Era uma criatura acometida de uma mazela retal, para quem foi indicado fazer uma endoscopia, procedimento que estava nascendo entre nós, vindo das terras distantes do sol nascente. Preparado o paciente, devidamente internado, como cabia fazer à época, foi levado à sala de exames. O profissional encarregado do exame fez uma curta exposição do que sucederia e ouviu do penitente uma justificativa de que: “No meu, doutor, ninguém vai mexer não! Aqui, só a terra há de comer!”. E assim foi, não se fez o exame e anos depois a terra realmente comeu. Vizinho seu de cama concordou com o procedimento, mas no meio do exame eliminou um certo volume de gás na face do médico ainda inexperiente. O profissional era meio agitado do juízo e não teve dúvidas e deu-lhe um safanão nas nádegas, ao que ouviu: “Doutor! Não tive culpa! Saiu sem querer!”. E foi mesmo! Saiu sem pressentir!
Naquele tempo - terminei me habituando -, os pulmões eram chamados de “bofes”, o baço apelidado de “passarinha” e os intestinos de “tripas”, não sendo incomum o velho “nó nas tripas”. Eram nomes vistos nos matadouros ou denominações costumeiras da culinária doméstica. Por isso, chamar o cérebro de “miolo” não admirava. Os “miolos” doíam que só, sobretudo depois de uma carraspana no bar da esquina. Mas, servia-se à mesa um prato delicioso: “miolo de boi”. Era um prato extremamente apreciado e o meu pai não dispensava a iguaria, justificando o quanto valia para a memória humana. Rico em fosfato, dizia. Com se o bicho tivesse mesmo lembranças duradouras! Com as “oiças” doentes, a velha Dona Mimi ouvia mal e às vezes não compreendia o que sentiam os meninos, para que a sua reza, com o galhinho de matruz colhido no jardim de casa, fizesse o efeito desejado. Fazia com o verde do mato uma cruz na cabeça, outra no tórax e mais uma no abdômen. O galho murchava, como fazem todos os vegetais retirados do caule, e a fisionomia da mulher iluminava-se de um quase gozo, o gáudio da vitória. Ó Dona Mimi! Quanta ingenuidade junta!
Eis o palavreado matuto. As crenças e os rituais da gente simples.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Cego da Gota Serena

Chegou para trabalhar já passava mais de trinta minutos da hora aprazada, do costume de todos os dias; mas, enfim, chegara. Naquela noite estava, particularmente, atarantado, tinha assistido à aula sobre tétano na Faculdade e aquilo o incomodava terrivelmente: era um hipocondríaco de livro. Soube de sua angústia e esperei pela chegada do chefe, a quem fui receber à porta do Centro de Saúde Gouveia de Barros. Contei o ocorrido e pedi que fizesse uma fisionomia de admiração, indagando-lhe o que havia. Vale a explicação de que a doença (tétano) provoca um riso especial, considerado nos compêndios de propedêutica como um “riso sardônico”. Foi assim: “Mas, o que há com você Vivaldi? Que riso é este?”. E o grande Vivaldi, diante de tanto espanto, de tanta surpresa, ficou de pé, levantou os dois braços e gritou em alto e bom som: “Estou com tétano!”. Quase enlouquece com as nossas dúvidas.
Era uma figura comum, igual a todos os outros estudantes de medicina, mas tinha essa peculiaridade, a hipocondria que o levava ao desespero, bastava estudar uma doença nova. Dizem que depois de formado, tendo ganho um bom dinheiro pras bandas do Maranhão, transformou-se em fazendeiro e hoje vive contando as cabeças de gado nos vários currais de que dispõe. Certa vez, porém, estudando em casa de um colega, na companhia de outros companheiros do curso, cismou que tinha engolido um pedaço de vidro da garrafa de coca-cola. A turma, matreira, como era, quebrou o bocal do recipiente e um deles perguntou alto: “Quem foi que quebrou a boca da garrafa de coca-cola?”. Só podia ter sido ele, Vivaldi. Repetiu, então, o gesto, de pé, com os braços levantados, deu o seu grito de guerra: “Engoli um pedaço de vidro!”. O grupo não fez por menos, levou o colega ao pronto socorro e assistiu de camarote o médico fazer radiografia de todo tipo, contanto que ficasse provado que o bocal não estava em seu estômago.
Os colegas se reuniam sempre para estudar e numa ocasião qualquer, um deles decorou parte do texto, enquanto outro apagava a luz. O nosso protagonista, de imediato, alertou: “Faltou luz!”. Mas o interlocutor que estava lendo o assunto da noite continuou falando e ainda insistia com Vivaldi: “Cala boca Vivaldi! Acompanha a leitura!”. O homem – pobre homem! -, gritou a plenos pulmões: “Estou cego!”. Foi uma risadaria geral e a ridicularia tomou conta do lugar. Vivaldi quase dá em gente com a raiva da hora.
Era assim o nosso colega das noites de trabalho no Centro de Saúde. Adoecia com toda doença que estudava, como se fosse ele mesmo o primeiro cobaia dos males desse mundo de Deus. Cego da gota serena, como dizia Virgínia, empregada lá de casa, vinda das brenhas dos Palmares e perdida na bagaceira.
(*) - Uma crônica oferecida aos meus colegas do Centro de Saúde Gouveira de Barros, inclusive Vivaldi (nome fícitício). Desejando comentar, não hesite, o faça no Blog mesmo ou escreva para pereira@elogica.com.br ou ainda para pereira.gj@gmail.com

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Mal Amada: Bonita e Bem Parecida

Amigo meu, colega de batente, passou a fazer o que os sociólogos chamam de observação participativa, expressão que aprendi faz pouco tempo, com leitor desse espaço virtual, mesmo, versado nessas coisas das ciências sociais. Explicou que fica em Gaibu, sua praia preferida e ali desenvolve as suas aptidões investigativas. Gaibu é palavra de origem indígena, Tupi, significando vale do olho d’água. Ignoro se por lá existe água jorrando aos borbotões! Certamente que sim! Mas, na condição de pesquisador desse cotidiano quase líquido, tem identificado e analisado os “farofeiros” do lugar. Vale explicar que essa gente “farofeira” vem de longe, às vezes até para ver o Oceano Atlântico pela vez primeira. Trazem de um tudo nos bornais, a galinha assada, o arroz branco e o feijão, sem falar nos refrigerantes e nas cervejas. Assim, evitam gastar o pouco que possuem na carteira magérrima.
Pois é, um desses, enrolado na areia da praia como um bife à milanesa, olhava a imensidão do mar, mirando as diversas tonalidades da água e de tão encantado que estava não hesitou em dizer: “Se tivesse um holofote aqui, eu ficaria a noite inteirinha vendo esse marzão!”. E a mulher que se deitara em frente ao meu ilustre colega, terminou sendo retratada a bico de pena. Senhora de formas protundentes, de quadris largos e amplos, de coxas iguais àquelas da mulherada dos anos sessenta. Deu-me o desenho e eu vou tentar passar para o computador, aqui mesmo por Aldeia, para publicar no Blog. Se não for logo, há de ser depois! E antes da partida do grupo, reuniram-se todos e deram o grito de guerra: Camaragibe. Vinham, então, dessa cidade pequena, nas imediações de onde estou agora.
Mas, hoje, enquanto caminhava, lembrava de fatos que me ocorreram quando era jovem e andava nas areias cálidas de Pau Amarelo, chegando até os domínios de Conceição. Era uma beleza aquilo lá. No deslocamento entre a igrejinha de Nossa Senhora do Ó e a paz de Maria Farinha, quase não se tinha companhia, tal o deserto. Em certa ocasião, porém, encontrei colega meu de turma que se refastelava na praia, quase no final de minha caminhada. Cuidei em parar e fiar conversa. Eu, ele, as duas esposas e mais um irmão deficiente mental. De repente, na linha de meu olhar, uma gringa baixa o maiô e expõe os seios. Eu me virei pra ele e expressei:
- Tonho! Estou me sentindo mal!
- O que sentes?
- Estou todo me tremendo. Olha o que vem se aproximando.
Ele viu e me disse que o irmão não poderia, em hipótese alguma, descortinar aquela nova personagem no cenário da praia. Foi ai que cuidei em abraçar o fraterno companheiro de ocasião e à medida que ela passava diante de nós, eu o fazia rodar sobre si mesmo, mantendo-o sempre de costas. Foi uma atitude egoísta, reconheço agora, pois o nosso Aprígio tinha também o seu direito à visualização inusitada, tanto quanto nós outros, tidos e havidos como saudáveis nessa ótica da mentalidade. Por certo somos mais debeis que ele.

Pior que isso ou remendando o dito, melhor ainda que isso foi o caso do cachorro que mordeu a minha filha mais velha, numa das idas à igreja em manhã de domingo. Fiquei preocupado com o incidente e passei a buscar notícias do cão. Em determinado momento me dispus a falar com a dona do animal. Morava em casa antiga, mas um imóvel grande, de fazer inveja aos locais. Era uma construção elevada com uma escada de acesso em alvenaria. Pois a madame veio me atender com todo o mal humor que acomete às mulheres bonitas e bem parecidas, mas mal amadas. Era uma manhã clara de verão e ela sequer decidiu-se por se compor adequadamente e chegou com um penhoar finíssimo. Com as duas mãos nos bolsos não percebeu que a roupa se abrira e como nada havia por baixo, pude descortinar a beleza momentânea de sua região pudenda, tão nua quanto a moça do alumbramento de Bandeira. Disse minha mulher – ainda hoje repete – que fiquei abestalhado, abobalhado e nada consegui verbalizar, senão um balbuciar qualquer, incompreensível. Mas, também, pudera, diante de tamanha visão não há quem se comporte. Só clamando por Renoir, capaz de trazer a beleza da nudez e a satisfação do sorriso.
Eis as minhas digressões da hora, lembranças de passagens do tempo que se foi e comentários em torno do que se tem agora no hoje do tempo. Desejando comentar, leitor amigo, não hesite, rabisque as suas impressões no espaço mesmo do Blog ou escreva para pereira.gj@gmail.com ou ainda para pereira@elogica.com.br