segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Mulher Barroca

Eu ando amedrontado com a onda de mulheres magras no mundo. Não que goste de gordura. Não que simpatize com as mulheres enormes que vejo nas ruas; sem cintura e sem contorno. Figuras horrendas, com seios enormes e quadris que podem conduzir o penitente sentado, facilmente. Sou nascido e criado nos anos das grandes valsas, por isso adoro figuras femininas com algumas gramas a mais, se bem que com o desenho de mulher presente no corpo. Mesmo que haja celulite e mesmo que existam estrias adornando a pele. São figurantes que bem poderiam estar nos grandes museus da Europa, perpetuadas pela pintura. Aliás, sou de opinião que toda e qualquer criatura com traços barrocos deve ser eternizada, para que possa ser admirada pelos anos a fora.

Costumo guardar com todo respeito o mandamento: “Não desejar a mulher do próximo.”. Faço isso com a ressalva compreensível de não se tratar de traço barroco na silueta. Certa vez, estando a convite numa residência, fiquei estupefato quando a dona da casa vestiu a roupa de banho e aproximou-se da piscina com um enorme culote à mostra. Amigo meu, sentado a meu lado, reclamou: “Rapaz! Tira olho! Pelo menos olha discretamente!”. Expliquei que não era possível, tinham batido no meu ponto fraco: o culote feminino. E contei a ele que tinha esse trauma infantil, porque tivera uma babá, nascida nos agrestes esturricados, com grandes volumes na raiz das coxas. Disse-lhe, inclusive, que a palavra coxa era um vocábulo pronunciado com muito respeito, pois a suplicante as tinha em grande volume. E o trauma persiste!

No meu tempo – justiça se faça – as mulheres eram gordas, mas tinham o desenho de violão à vista de toda gente. Assim eram as albacoras! Mas, ninguém esquece de Marinete, figura enorme, de grande e volumoso quadril, com coxas de deixar qualquer um embasbacado. Tinha um defeito, era coberta de pelos, das pernas às coxas, um pretume que só vendo. Mas era uma figurante séria, de cara fechada – sabia seu valor –, dando bola, apenas, a quem tivesse lambreta. Não queria conversa com homem sem a motocicleta da moda e muito menos a gente com chave de carro importado, difícil à época. Conhecia seu lugar!

A mesma coisa de diga de Maria de Camocim, mulher arabizada, como aquelas dos encantos de Gilberto Freyre. Criatura em tudo protundente; portadora dos seios mais bonitos que a natureza já viu e de quadril espetacular. Foi ela que se perdeu – ou se achou – com um primo, em viagem que fizeram juntos a Caruaru, trazendo a tiracolo um menor, que cuidava em segurar a vela. Perdida, não foi mais aceita em casa e veio para o Recife, empregando-se em minha casa, para deleite da rapaziada e aperreio de minha mãe. Depois trouxe a irmã, Rita, séria e calada, fechada e inflexível.

Difícil é esquecer Virgínia dos Palmares, negra da cor e de glúteos que homenageavam a mãe África, tal o volume sob o vestido de chita amarrotado. Tinha se perdido na bagaceira com homem branco e traiçoeiro, desses que não assume o que faz e não cumpre a palavra. Nem filho tivera, mas o pai, na severidade do tempo, a mandou de casa pra fora. Fosse fazer a vida por ai e ela foi bater – era o mesmo destino sempre – no portão de minha casa, pedindo emprego. Entre, minha filha, se acomode, disse minha avó, habituada com as coisas do mato.



Fui rapaz de ter muitas namoradas para a época. Mas, de uma coisa fique certo o leitor: só arranjei mulher de traço barroco.


A crônica é de hábito publicada também no Jornal Besta Fubana