domingo, 24 de fevereiro de 2013

Carta a uma filha

Minha querida filha Patrícia
A Emoção da Surpresa
Ainda a Chegada
Acordei hoje feliz, felicíssimo mesmo. Estava imaginando como será a nossa Júlia, se moreninha ou lourinha, se ativa e até agitada ou se calminha, pacata. A vida é assim! Ontem sua mãe estava grávida de você e com a barriga enorme, remando pelo meio da casa, hoje é você, do mesmo jeito; se disser que não é filha, o jeitão atesta que sim.
 
É o tempo! O tempo é um velho mágico, vestido de fraque e cartola, que vai fazendo passar os segundos e os minutos, as horas e os dias. Foi ele quem fez nascerem as três filhas que tenho, cada qual num ano diferente e cada qual com o seu jeito peculiar. Você é a filha meiga, afetuosa, carinhosa. Será uma mãe assim, com a sua forma meiga de ser. Na infância as bonecas lhe preencheram os dias, agora o brinquedo há de ganhar vida e por certo lhe preencher também as horas e os dias.
 
Com os pais (Avós)
À tarde, quando o sol se recolher no infinito das coisas e a noite for se aproximando, estaremos todos juntos, a família se reunirá para o tradicional "Chá de Fraldas". Foram as suas irmãs e a sua mãe que se juntaram e organizaram essa forma de lhe acolher, para que o aconchego possa chegar à Julia, nosso objetivo de agora. Guaranás e bolinhos, um bolo grande também, simbolizando a nossa alegria e a nossa satisfação em ter mais um membro nessa constelação parental.
Com as irmãs - amigas de verdade
 
Seu pai

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Um trote benfazejo

             Passei um tempo de minha vida – dez anos se muito – dando consultoria a um laboratório farmacêutico. Dava aulas ao que eles chamavam força de trabalho (os propagandistas), tirava as dúvidas surgidas durante as visitas e uma vez ou outra tinha que promover reuniões com colegas médicos sobre um produto novo, um lançamento a ser realizado. Mas, o que interessa dizer é que o meu chefe em São Paulo, um jovem cirurgião vascular, morreu, acometido por uma morte súbita. Entrou o novo chefe, um camarada moleirão, medroso, cheio de nó pelas costas, como diria meu pai.

Pouco depois dessa mudança, fui eleito e nomeado Diretor do Centro de Ciências da Saúde (CCS), da UFPE. O CCS reunia todos os cursos da área de saúde, incluindo o de medicina, de cujo programa eu participava. O novato notou que eu estava tendo alguma dificuldade em cumprir com os compromissos, mas não tinha ainda desistido do lugar de Consultor. Era um ganho a mais no salário, recebido em banco próspero no Recife, dos primeiros a implantar a figura do caixa eletrônico, hoje tão comum. Ótima a sistemática, porque parava o carro na Agamenon Magalhães e sacava o dinheiro do final de semana ou o necessário à gasolina.

Certo dia, em meu Gabinete de Diretor recebo um telefonema do novato, mais ou menos nesses termos:

- Geraldo? Tudo bem com você? Estou lhe telefonando para dizer que o seu novo cargo de Diretor, por certo lhe trará dificuldades para cuidar dos interesses da Companhia.

- Claro! Já estava esperando a sua ligação.

- Veja, eu vou combinar por aqui, com o jurídico, como fazer a sua indenização e depois lhe telefono. Gostaria, no entanto, de lhe pedir que esse seu desligamento fosse mantido em segredo, porque sei de suas amizades no Recife e não quero que haja prejuízo para a empresa.

 

É interessante, pois a Companhia está sempre em primeiro lugar e a criatura vem em segundo, quando muito. De toda forma, procurei um advogado especializado em Direito do Trabalho e ele me disse que pedisse R$ 15.000, 00, para receber mais ou menos R$ 10.000, 00. Não preciso dizer que a quantia nos anos noventa, logo depois da reforma monetária, era um bom pagamento para os dez anos de empresa. Guardei o segredo e continuei a vida, mas o danado do Chefe cortou o meu pró-labore do mês, antes de qualquer acerto. Fui ao caixa eletrônico e não encontrei nada. Vivia-se a primeira das eleições de Lula e eu bolei um trote; um trote a ser deixado na secretária eletrônica do novo Chefe.

 

Liguei pra ele na hora do almoço e ouvi a mensagem: “Deixe o seu recado:”

 

- Feliciano você me pediu para não dizer nada a ninguém e você mesmo disse. Ligaram-me de uma revista de grande circulação (dei nome aos bois), pedindo uma explicação sobre a minha saída. Respondi que ligassem à tarde, depois das 15 horas.

 

Nunca uma pessoa me retornou tão prontamente, quanto aquele efêmero figurante de minha vida. Louco, verdadeiramente louco. Disse-lhe que como ele já rompera com o pacto e como eu não recebera o pró-labore, diria tudo. O homem quase chora com a confusão que se instalou e disse que era tudo culpa “desse PT que deseja o poder a todo custo.”. Disse para não se preocupar, mas continuar a guardar o segredo, porque da parte dele o pacto estava de pé e o meu dinheiro seria depositado.

 

E assim foi feito! Quando voltei pra casa, depois de uma tarde de trabalho, o saldo apontou o depósito e eu passei o final de semana com o último pró-labore na conta.  

 

 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A promessa e a gargalhada

              Sabem os meus leitores que sou chegado a um trote telefônico, sobretudo como forma de descarregar as tensões. Às vezes, muito estressado, recorro à invenção de Graham Bell e me passo por outro. Depois de rir às bandeiras despregadas, garanto que volto à normalidade das coisas. Foi assim daquela vez em que abordei a clínica veterinária de Aldeia e disse que tinha capturado uma raposa e que ela estaria doente. O que fazer? E a mocinha que atendeu, perplexa, disse: “Só chamando a veterinária.”. E eu desliguei!
Ainda por lá, no aprazível bairro de Aldeia, fiz a chamada para uma casa de vender plantas e informei: “O major Fagundes aqui de Araçoiaba faleceu e você sabe que ele gostava muito de plantas, por isso estamos desejando fazer o velório ai!”. Não, respondeu o empregado, aqui não se faz velório e logo hoje, um dia de sábado, com o movimento que está, vai atrapalhar tudo!. Eu insisti: “Amigo! Pois o carro funerário que veio do Recife já partiu pra ai e chega já!”. E ele: “Olhe suspenda isso imediatamente, porque se estacionar aqui nós vamos quebrar de pau quem vier trazer!. E a novela ficou por ai!

Certa vez, ligou pra minha casa uma criatura qualquer. Sem que se identificasse, procurou por outra, digamos que tenha procurado por Severina. Assim: “Severina está?”. Não, respondi, Severina morreu e já faz algum tempo. E a interlocutora de ocasião: “Meu Deus do céu, eu não soube! De que ela morreu?”. Eu nem sei de que morreu, pois sou da família, mas entrei agora na constelação parental e não conheci essa defunta. A mulher, indagou como tinha entrado tão recentemente na família e eu justifiquei que resolvi casar com a irmã da falecida, de quem era amante há muitos anos. Amante? Foi o que indagou! Sim, amante! Tem alguma coisa contra. “Não!” E desligou!

Mas o que motivou esta crônica, como forma de homenagear a sexta-feira de Carnaval, foi aquela ligação que recebi há muitos anos, lá na Boa Vista, onde morava; Boa Vista para uns e Santo Amaro para outros. A verdade é que ai pelas 16 horas, já tinha chegado do trabalho, porque nesse dia não se tem muito o que fazer, quando fui atender o telefone. A voz feminina jovem perguntava por Marcondes. Assim: “Marcondes está?”. E eu com a maior cara de pau: “Está ai junto, no bar, completamente embriagado. Nem dá para chamar, porque ele veio aqui ainda agora e foi de quatro pés.”. A mulher enlouqueceu e ainda teve coragem para continuar falando, dizendo: “Mas, ele me prometeu ir amanhã ao Galo da Madrugada! Eu vou matá-lo quando o encontrar sóbrio!”. E eu, ainda com a mesma cara de pau: “Moça! Todos os anos ele promete isso a alguém e nunca conseguiu cumprir!”. Não sei, francamente, se ela o matou ou não, o que sei é que dei uma sonora gargalhada e me mandei para o “Nem sempre Lili toca flauta”, dos agrados de minha mulher.
(*) - Uma homenagem à sexta-feira carnavalesca, dia dedicado aos filhoses com um mel de laranja bem cuidado, tão dos agrados de minha tia Lola, a quem dedico esta crônica de agora. A Maria Ângela também, a prima de tantos encantos, vibrante com as coisas do passado, sempre lembrando do corso e de outras brincadeiras do Carnaval. O texto é de hábito reproduzido no Jornal A Besta Fubana. Desejando o leitor, nao hesite em comentar os trotes, usando o espaço mesmo do Blog ou enviando e-mail para os endereços pereira@elogica.com.br ou pereira.gj@gmail.com