segunda-feira, 1 de março de 2010

Levado da Breca


Eu era um peralta nos anos de menino! Fiz horrores no Colégio Nóbrega, por isso, ainda hoje os padres gostam de mim e fazem muita festa quando me encontram. Alguns nem são mais padres no hoje dos dias. É como o Padre Ivan, psicanalista Ivan Correa agora, homem de uma cultura ímpar, um sábio. Pois estava ele dando aula e eu fui comprar um picolé, voltei, entrei até começo da sala e indaguei: “Professor! Pode entrar chupando?”. Ao que respondeu, sem titubear: “Pra fora!”. Em casa estava o meu tio Cícero, figura ótima, também, mas espírita por convicção, a quem falei do que ocorreu. Recebi o seu apoio incondicional: “Fez muito bem! Faça outra vez amanhã!”. Maluquice do tio, ele era contra todo e qualquer sacerdote. Coisas de antes do Concílio. Dia desses, encontrei Ivan, lembrei o fato ou o feito, ele riu às bandeiras despregadas. Mas, não lembrava!
Certa vez, aportou por lá um professor de geografia, novato na forma da lei. O homem só faltou enlouquecer os alunos. Chegou a um ponto tal que a turma ia ser toda reprovada: dava problemas nas provas. Pedi a palavra e disse, por a mais b porque em geografia não se pode formular exames com problemas matemáticos. Ele não aceitava e tinha toda razão, pois os enunciados pediam cálculos de longitude e de latitude. Mas, tenha piedade, meu rei, não é por ai, quase digo. Um belo dia, à tarde, ai pelo segundo ano cientifico, inventei o aniversário dele. Isso com a intenção de acabar com aula. Ele, diante do alvoroço, negou estivesse completando idade nova, ao que foi contestado por mim e na dúvida, consultou o calendário. Terminou aceitando a festa e matando a aula. Foi um deus nos acuda!
O meu pai, que fora professor no mesmo colégio, algumas décadas antes, me contou que um de seus alunos respondeu a presença em canto gregoriano. Eu lhe disse que ficasse tranquilo, eu faria o mesmo no dia seguinte. E na aula do padre Alves, um homem santo, que nunca mereceu a bagunça que se fazia em suas exposições, fez a chamada, pronunciando o meu nome pausadamente: Geraldo José Marques Pereira. Levantei e comecei: “Preeeeeeeesente!”. Todos ouviram a sentença do sacerdote: “Pra fora!”. Ora seu padre, eu estou descontando o que fizeram com o meu pai, eu não mereço isso, não faça isso comigo. E ele: “Tenho que fazer para lhe consertar!”. E o senhor ainda vem me enganar! Cuidado com o fogo do inferno! O senhor vai pagar tudo isso no purgatório. E o nosso santo, quase desesperado: “Fique aqui pelo amor de Deus!”.
Esse mesmo padre Alves, em sua santidade e na sua também quase leseira, perguntou no exame final de geografia: “Fale sobre Hitler!”. Comecei falando sobre Leonel Brizola, que começava no Rio Grande do Sul a sua vida política, e ele dizia: “É Hitler!”. E eu: “Calma! Chegaremos lá!”. E não consegui chegar, porque a distância era grande no tempo e os objetivos de vida completamente distintos. Levei, mais uma vez, zero na caderneta. De outra feita, com ele mesmo, ao chegar para a aula, dei-lhe a informação decisiva: “Estamos em guerra com a sala ao lado! Acho melhor o senhor não permanecer em sala! Seremos atacados!”. Ele ficou meio atrapalhado, rodou pra lá e rodou pra cá e saiu. Não era besta de ficar sob o fogo cruzado de bolotas de papel molhado.
Finalmente, quando fui pra fora mais uma vez, com a maior cara de pau estive na quadra de basquete e pedi uma camisa empestada, troquei a minha e voltei. O jesuíta disse: “Ei! Vai pra onde?”. Vou assistir aula, mestre! Justificou que não, pois que tinha sido posto pra fora há pouco. Eu, então, retruquei: “Padre Alves! É a segunda vez que o senhor faz isso comigo! Aquele é o meu irmão gêmeo, mas eu sou direitinho, diferente dele, levado da breca, como é. Eu acho que tinha vontade de ter um irmão gêmeo – gêmeos iguais –, porque em mais de uma ocasião usei essa álibi. Mas que fosse diferente desses gêmeos idênticos da novela das 9, porque um deles traiu o irmão. Valha-me Deus do ceu!