terça-feira, 3 de novembro de 2009

Mal Amada: Bonita e Bem Parecida

Amigo meu, colega de batente, passou a fazer o que os sociólogos chamam de observação participativa, expressão que aprendi faz pouco tempo, com leitor desse espaço virtual, mesmo, versado nessas coisas das ciências sociais. Explicou que fica em Gaibu, sua praia preferida e ali desenvolve as suas aptidões investigativas. Gaibu é palavra de origem indígena, Tupi, significando vale do olho d’água. Ignoro se por lá existe água jorrando aos borbotões! Certamente que sim! Mas, na condição de pesquisador desse cotidiano quase líquido, tem identificado e analisado os “farofeiros” do lugar. Vale explicar que essa gente “farofeira” vem de longe, às vezes até para ver o Oceano Atlântico pela vez primeira. Trazem de um tudo nos bornais, a galinha assada, o arroz branco e o feijão, sem falar nos refrigerantes e nas cervejas. Assim, evitam gastar o pouco que possuem na carteira magérrima.
Pois é, um desses, enrolado na areia da praia como um bife à milanesa, olhava a imensidão do mar, mirando as diversas tonalidades da água e de tão encantado que estava não hesitou em dizer: “Se tivesse um holofote aqui, eu ficaria a noite inteirinha vendo esse marzão!”. E a mulher que se deitara em frente ao meu ilustre colega, terminou sendo retratada a bico de pena. Senhora de formas protundentes, de quadris largos e amplos, de coxas iguais àquelas da mulherada dos anos sessenta. Deu-me o desenho e eu vou tentar passar para o computador, aqui mesmo por Aldeia, para publicar no Blog. Se não for logo, há de ser depois! E antes da partida do grupo, reuniram-se todos e deram o grito de guerra: Camaragibe. Vinham, então, dessa cidade pequena, nas imediações de onde estou agora.
Mas, hoje, enquanto caminhava, lembrava de fatos que me ocorreram quando era jovem e andava nas areias cálidas de Pau Amarelo, chegando até os domínios de Conceição. Era uma beleza aquilo lá. No deslocamento entre a igrejinha de Nossa Senhora do Ó e a paz de Maria Farinha, quase não se tinha companhia, tal o deserto. Em certa ocasião, porém, encontrei colega meu de turma que se refastelava na praia, quase no final de minha caminhada. Cuidei em parar e fiar conversa. Eu, ele, as duas esposas e mais um irmão deficiente mental. De repente, na linha de meu olhar, uma gringa baixa o maiô e expõe os seios. Eu me virei pra ele e expressei:
- Tonho! Estou me sentindo mal!
- O que sentes?
- Estou todo me tremendo. Olha o que vem se aproximando.
Ele viu e me disse que o irmão não poderia, em hipótese alguma, descortinar aquela nova personagem no cenário da praia. Foi ai que cuidei em abraçar o fraterno companheiro de ocasião e à medida que ela passava diante de nós, eu o fazia rodar sobre si mesmo, mantendo-o sempre de costas. Foi uma atitude egoísta, reconheço agora, pois o nosso Aprígio tinha também o seu direito à visualização inusitada, tanto quanto nós outros, tidos e havidos como saudáveis nessa ótica da mentalidade. Por certo somos mais debeis que ele.

Pior que isso ou remendando o dito, melhor ainda que isso foi o caso do cachorro que mordeu a minha filha mais velha, numa das idas à igreja em manhã de domingo. Fiquei preocupado com o incidente e passei a buscar notícias do cão. Em determinado momento me dispus a falar com a dona do animal. Morava em casa antiga, mas um imóvel grande, de fazer inveja aos locais. Era uma construção elevada com uma escada de acesso em alvenaria. Pois a madame veio me atender com todo o mal humor que acomete às mulheres bonitas e bem parecidas, mas mal amadas. Era uma manhã clara de verão e ela sequer decidiu-se por se compor adequadamente e chegou com um penhoar finíssimo. Com as duas mãos nos bolsos não percebeu que a roupa se abrira e como nada havia por baixo, pude descortinar a beleza momentânea de sua região pudenda, tão nua quanto a moça do alumbramento de Bandeira. Disse minha mulher – ainda hoje repete – que fiquei abestalhado, abobalhado e nada consegui verbalizar, senão um balbuciar qualquer, incompreensível. Mas, também, pudera, diante de tamanha visão não há quem se comporte. Só clamando por Renoir, capaz de trazer a beleza da nudez e a satisfação do sorriso.
Eis as minhas digressões da hora, lembranças de passagens do tempo que se foi e comentários em torno do que se tem agora no hoje do tempo. Desejando comentar, leitor amigo, não hesite, rabisque as suas impressões no espaço mesmo do Blog ou escreva para pereira.gj@gmail.com ou ainda para pereira@elogica.com.br