sábado, 8 de outubro de 2011

Demais da Conta

Estudei o antigo Curso Secundário no Colégio Nóbrega. Fiz o Exame de Admissão, o Ginasial e o Científico e francamente, pintei e bordei lá dentro. Só não fui expulso, porque o meu pai tinha sido professor do Colégio e era um homem de grande prestígio na cidade. Já contei aqui que cheguei alguns meses antes do verdadeiro vestibular que era o Admissão, isso para ir me habituando com a rotina, a qual era completamente diferente daquela do grupo escolar, dizia meu pai. Eu nem sei se era! No fim, no fim, era tudo a mesma coisa!

Nos primeiros dias estranhei muito a voz do professor, o sotaque, pois que ele era português. O meu sobrenome, por exemplo, que é “Pereira”, o homem pronunciava como “Preira”. Foi difícil me acostumar com aquilo, mas o homem se habitua com tudo e eu me habituei com essa forma de falar. É! Terminei sendo aprovado com 9,95 e como não acreditava em mim, de forma alguma, lá não fui buscar uma medalha a que tinha direito. Um professor que morava no museu e tinha, ao que se dizia medo de mulher, razão para que eu colecionasse fotos de mulheres de biquíni e jogasse por baixo da porta dele. E ele, coitado:


- O senhor pensa que eu tenho medo de mulher?


- Claro que não, professor!


- E por que está deixando fotografias de mulheres sob a minha porta!


- Professor! Sinceramente, considero o senhor o maior galã vivo, um fora de série, conquistador de mulheres.


De outra feita, ouvindo a chamada dos alunos, quando o mestre declinou o meu nome, respondi como certo aluno fez com meu pai, em gregoriano: Preeeeeesente. Na mesma ocasião e em ato contínuo foi expulso da sala. Pra fora canalha, foi o que disse o professor! Em outra ocasião o mestre entrou na sala de aulas e eu me levantei e disse: “Queremos cumprimentá-lo pelo aniversário!”. Mas, não é meu aniversário, respondeu. E eu: “É! O nosso calendário não é propriamente o seu!”. E as palmas comeram no centro, depois de um ”parabéns pra você” bem cantado e bem ritmado. Era um professor de desenho, que vinha dando problemas pra serem resolvidos e numa de minhas falas eu assegurei que a matéria não comportava problemas e até hoje estou certo disso.


Houve certa oportunidade em que o nosso mestre de geografia pediu a todo mundo que trouxesse um atlas. Já se sabe que eu não trouxe o meu e à indagação de onde estaria o meu atlas, simplesmente abri no choro e disse: “O meu pai não tem dinheiro pra comprar!”. E o professor, muito compungido com a questão, me dispensou de portar o acessório para sempre. E o nosso novo professor de geografia fez uma chamada oral e claro, eu fui escolhido para começar: “Meu filho! Fale sobre a geografia da Alemanha?” Comecei tratando do Rio Grande do Sul, falando sobre Brizola e outros de seus correligionários, ao que o professor interrompia para lembrar: “Alemanha.”. E eu, calmamente. “Professor, por favor, vou chegar lá! Vou falar sobre o Rio Grande do Sul, depois sobre Hitler e finalmente sobre a geografia da Alemanha.”. Mandou que sentasse, porque era demais da conta.

(*) Um texto sobre as minhas peripécias no Colégio Nóbrega. Comente no corpo do Blog ou para os e-mails pereira@elogica.com.br ou pereira.gj@gmail.com A crônica tem sido reproduzida no jornal virtual A Besta Fubana