segunda-feira, 9 de maio de 2011

As historias do motorista.

Era um homem primitivo, tosco, pelo que deixou muita coisa interessante de suas tiradas, verdadeiros chistes da existência. Homem tão diferente, que sendo um fumante inveterado, certa vez, deixou cair um fósforo no chão e acendeu outro para procurar o palito perdido. Havia uma moça na rua de seios grandes, volumosos, razão para jogar na vaca quando a via. Tirou mais de uma vez e disso se vangloriava. Gostava de conversar com ela, admirando-a nas qualidades femininas. Mas o que melhor fazia, quando a via, era apostar na vaca.

Quando o meu pai foi nomeado Diretor da então Faculdade de Filosofia, ele veio para ser o motorista oficial e logo fez amizade comigo, que era o mais velho, o mais dado às amizades e o que tinha o papo na ponta da língua o tempo todo. Ora, sentados fiávamos longas conversas sobre os mais diversos assuntos. Temas, quase sempre, sensuais, a sua especialidade em jeitos e trejeitos que tinha. Foi ele quem me contou que quando era motorista em outra casa, diante do casamento iminente da moça mais velha, não sendo ela mais uma virgem consubstanciada, característica que perdera com ele, a ensinou utilizar-se da ação de uma pedra UME, para simular a condição perdida. Não sei como e nem por que? E assim foi! O noivo de nada desconfiou!

Os meus amigos consideravam Seu Severino um mentiroso de carteirinha, mas as suas histórias eram fantásticas. Costumava ficar na ponte Duarte Coelho, para a observação cuidadosa das saias ao sabor dos ventos de agosto. É uma beleza, costumava dizer, fazendo alusão ao festival de pernas que via de seu local preferido. Uma figura que passava por lá, com frequência, era também professora da faculdade e a descrição das pernas dela merece um capítulo à parte, se um dia esses relatos forem divulgados. Eram coxas tão grossas, dizia, que davam quase o diâmetro do oitizeiro que havia em frente de casa. Não era, não podia ser!

Descobriu que era diabético, quando notou as formigas de sua casa fazendo fila nos pingos de urina que caiam do sanitário. Experimentava a urina e dizia se estava ou não pior. Danado foi quando pediu à esposa que também experimentasse, para oferecer uma opinião mais abalizada. Não se tratava com médicos, antes consultava os curandeiros lá de Camocim, terra da segunda mulher que desposara. O chá da entrecasca do caju, no seu entendimento, era um santo remédio. Andava com aquilo para onde ia, fosse a casa ou o trabalho. Tomou litros do chá e de nada serviu. Morreu cedo!

Foi com ele também que aprendi a dirigir, sob a sua orientação, mas às escondidas de meu pai. Se o seu pai souber disso, argumentava, eu perco o meu lugar, mas nunca fez nada de mais objetivo para desistir da empreitada. Foi assim que em certo congresso, em Mossoró, eu dirigi o Ford 53 acima e abaixo. Quando o velho me viu passar ao volante, fazendo charme para as meninas do lugar, abriu o verbo e me proibiu de pegar no carro para sempre. Mas, eu peguei! Porque para sempre, como diz o meu colega Perseu Lemos, é muito tempo.

As empregadas de casa eram classificadas por ele. Maria era sincera e franca, podia ser cortejada sem maiores problemas, já Rita, sua irmã, era uma sonsa, fingida, se dizia moça virgem, mas não era confiável, segundo ele. Confiável eram todas que tinham seios bonitos! E Cícera, a gorda que andava o quintal inteiro estendendo roupa e que ainda cozinhava o pirão do almoço. Era mulher muito fácil, bastava olhar pra ela ou levar uma conversa qualquer. Era para qualquer conversa. E era mesmo!












Um comentário:

  1. Geraldo,

    Bom o seu texto, considerando o seu estilo ousado de, por vezes, escrever.
    Não sou adepta, mas respeito o Sujeito e o verbo, além da inspiração , que você não deixa reprimida. Autêntico e manifesto, não se permite censurar.

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