sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Um Monumento ao Livro

Estive no Leste Europeu e confesso que fiquei perplexo com o desenvolvimento que aquelas cidades, antes submetidas ao jugo comunista, alcançaram em tão pouco tempo. O muro de Berlim foi abaixo a 9 de novembro de 1989 e daí por diante a liberdade passou a presidir as decisões e o dia a dia da gente daqueles lugares. Insisto com a palavra liberdade, porque era o que se via como objetivo maior alcançado pelas populações. Havia uma pessoa na excursão que indagava, sistematicamente, aos guias, se gostariam de voltar ao regime anterior. A resposta era sempre um “não”, embora reconhecessem que ganhavam menos e que tinham acesso aos benefícios sociais em menor escala.

Mas, era o direito de ir e vir que fazia a diferença para o povo daqueles rincões; rincões de muitas cidades. Ainda pude ver um posto de fronteira, onde eram barrados os veículos que podiam levar viajantes não autorizados. Era um posto abandonado. Mas, a organização das cidades foi um fato que me chamou a atenção. Todas contando com bondes elétricos, que iam e vinham com desenvoltura. Andei em um deles e achei ótimo o deslocamento de um bairro a outro. Não sei as razões pelas quais o Recife acabou com o bonde que cortava a cidade e tinha inclusive terminal em Olinda. Ignoro se os proprietários de ônibus participaram disso.

Em Berlim estive no que ainda resta do velho muro, tirei fotografias para a posteridade, mas vi o espaço que havia entre as duas construções de isolamento, em cujo intervalo morreram tantos que apenas aspiravam a liberdade. Compreendi as diferenças gritantes entre a vida de um e de outro lado. Os apartamentos padronizados, às vezes reunindo várias famílias, com cinco ou seis fogões e igual numero de geladeiras. Um horror! Pessoas estranhas no mais das vezes, sem parentesco e sem amizade anterior. Uma geração que ainda carrega sequelas do autoritarismo, nas pessoas dos guardas fardados como se estivessem sob o regime comunista. Aqueles quepes enormes cobrindo a cabeça, em tudo muito parecidos com os similares da União Soviética.

Mas estive, também, em cruzeiro pelo Mar do Norte e pelo Báltico, atualizando uma geografia que nunca esteve em paz na minha cabeça. Impressionou-me, sobremodo, a Dinamarca, onde a guia, mostrando o Parlamento, apontou o estacionamento das bicicletas dos deputados. Ora que coisa, quase digo, andam por aqui pedalando, qual simples cidadãos do povo, que vão pela manhã ao trabalho? E era isso! Até a Rainha e o Príncipe podem ser vistos nas ruas pedalando uma bicicleta. As ruas de todos os lugares primam pela higiene, pela limpeza, não se vendo buracos ou observando pedaços de papel no chão, embora sejam constantes as pontas de cigarros: fuma-se muito em todo canto.

Em todas as cidades que passei, de Budapest a Talin, a cultura é um ponto forte. Observei que havia sempre, em horários diferentes, concertos nas igrejas e nos teatros, como havia, também, peças sendo levadas e sessões de cinema de arte. Vi em Talin, em certo passeio turístico, um templo Luterano medieval conservado integro, para que as gerações de um futuro que já chegou vejam como se fazia o culto naqueles tempos do medievo. É interessante como as igrejas evangélicas repetem o catolicismo, inclusive com veneração aos santos.

Vi em Berlim um monumento interessantíssimo. Uma escavação no solo, coberta por uma vidraça, através da qual se podia ver algumas estantes, vazias completamente. Representa os livros que foram queimados por Hitler depois da tomada da cidade, sobretudo da universidade, onde estava o vão. Marejei os olhos! E os que foram sacrificados no holocausto estão homenageados em terreno grande, repleto de tumbas, as quais lembram os trucidados em nome do nada.

E o Portão de Brandemburgo sob a inspiração da deusa da paz, Irene de prenome, preside a tranquilidade da Alemanha de agora.







(*) - Crônica publicada originalmente na revista Algomais. As fotografias que ilustram o texto são do autor ou de sua esposa (Zaina). Atentem para a do templo luterano, no qual subi no púlpito e de lá tiraram o meu retrato. Talvez cumprindo o desiderato vocacional. O artigo é habitualmente reproduzido no jornal virtual A Besta Fubana. Desejando o leitor comentar, o faça no espaço mesmo do Blog ou se utilize dos e-mails: pereira.gj@gmail.com ou ainda pereira@elogica.com.br



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