terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Perplexidade

Confesso que vivo uma fase de uma melancolia cívica. Todo dia se tem um fato novo a acrescentar, nessa cantiga da corrupção. Nunca vi, sequer em minhas leituras, tempo de tanta malversação do dinheiro público, como este. É voz corrente que não há no mundo nada semelhante, nada parecido. A empresa que levou o povo às ruas há meio século, numa vibração continua pelo petróleo, está ruindo à custa do roubo, do assalto à luz do dia. Com isso, atingem o suado dinheiro do brasileiro e o pior, inibem as atividades que poderiam melhorar a qualidade de vida do cidadão.

Onde estão as casas do projeto Minha Casa Minha Vida? A secretária aqui de casa, domiciliada na Ilha do Maruim, em Olinda, espera por uma unidade de um programa de moradia popular há mais de 8 anos e ainda deixam de pagar o auxilio a que tem direito. E sou eu quem assume o custo do aluguel. Quando a televisão mostra o povo invadindo os imóveis que estão prontos, à falta de habitação para morar, eu acho é pouco, porque representa uma revolta social, com a injustiça de não se oferecer casas ao segmento de população abaixo dos remediados da sorte. De que serve a Constituição recomendar diferente? Não se cumpre mesmo nada! Prova disso está agora nas démarches do Executivo, para que o Congresso permita maquiar a contabilidade do Governo. Pior não pode ficar!

Descubro que vivo uma recalcitrante perplexidade, com tanto coice e tanta patada dos que estão à frente das decisões. Parece até que somos os culpados pela inflação, que forjamos a roubalheira na Petrobras e estimulamos o mensalão. Dói saber que tanta gente trabalha o ano inteiro, dependendo do transporte público, para ganhar a miséria do salário mínimo e no fim não têm direito a nada, enquanto os grandes se refestelam numa falsa realidade. Moram em palacetes e comem caviar, bebem os whiskys finos e tomam as cervejas importadas ou os vinhos da Europa. Isso sim é pecado, roubar o dinheiro da gente simples, nadar em ouro, solapando os pobres e os miseráveis. Ou pecado, ainda, é esconder os números das estatísticas nacionais, empurrando para o tapete os dados da inflação ou as informações do balanço das empresas públicas.

Essas pessoas que usufruem dessa massa roubada, não lembram que caixão não tem gaveta e que depois da morte o caminho é um só, seja pobre ou seja rico.

3 comentários:

  1. Geraldo: Excelente artigo na atualidade dos dias. Tudo neste País já passou dos limites. Você aborda o tema de tantos dramas e de cantigas da corrupção, da melhor forma..
    O último parágrafo foi de uma lucidez impressionante que implica reflexão, se é que o homem ainda tem um pouco de humano.....
    Abraços, Eliana Pereira (www.blogdepereira.blogspot.com )

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  2. Caro Geraldo:
    Comungo com você da mesma repugnância pelo que grassa nos nossos dias. Somos um grande país, com um povo, que apesar de tudo, é ordeiro e vive milagrosamente, em sua maioria, com um salário vergonhoso, uma saúde sucateada, que nunca chega a ser exemplo, uma educação que deixa a desejar, jovens que se perdem na estrada da vida, sem perspectivas e um poder que se locupleta à custa do sofrimento de milhões de sacrificados trabalhadores, porque não sabemos lutar por aquilo a que temos direito. Nosso país que apesar de tudo, tenho esperança, será exemplo para o mundo, é o grande celeiro das coisas boas da terra. Cabe a nós brasileiros darmos as mãos e lutarmos por tudo aquilo em que acreditamos. Chegaremos lá, mas para isso não podemos admitir mais sermos feitos de bobos.
    Esses poderosos, certamente, devem ser umas coisas... Como tão bem escreveu dia desses, repito agora a frase: "Acho que o humano está em extinção"...
    Um abraço

    Lígia Beltrão - http://www.divulgaescritor.com/products/ligia-beltrao-colunista/

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  3. Meu caro acadêmico Geraldo
    A questão é recorrente, embora no governo dito "popular" os problemas tenham se exacerbados, e como!
    Indo ao que me parece ser o nascedouro disso tudo, volto-me para a educação. Enquanto não a tivermos dentro do conceito do Mestre Paulo Freire (ideologia à parte), não teremos um povo com capacidade de escolher seus dirigentes.
    A educação lato sensu leva à reflexão e esta à contestação. Povo desinformado é povo que troca seu voto por uma "bolsa" qualquer. Por isso, nossas escolas são de má qualidade. Freire dizia que, enquanto a escola conservadora procura acomodar os alunos ao mundo existente, a educação defendida por ele tinha a intenção de inquietá-los.
    Eduquemos o povo e ele saberá colocar no poder os que são sensíveis às verdadeiras questões sociais. E a educação é pré-requisito para tal. Quanto mais informação menos corruptos no poder.
    Mais uma crônica sua em nível de excelência. Meu forte amplexo. Silvio A. Costa.

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