



Eu cumpria à risca a recomendação da avó paterna! Mas, essa era uma explicação completamente desnecessária,
porque não havia dúvidas quanto à sobriedade de meu pai, dia por dia e hora por hora. Mas, se era para dizer, eu dizia e resposta, francamente, nunca me deram, senão a entrega do copo que oferecia nas mãos de seu Erasmo – dizia minha mãe que era um interessado no estabelecimento –, dele mesmo recebendo, sem delongas. Introduziam a bebida na garganta do bicho e passavam a faca no pescoço. Muitas vezes assisti o animal sair correndo, sangrando e completamente embriagado, trocando as pernas – coitado! –, sem destino, quase se pode dizer. Mas, daí a pouco entregava os pontos e morria, sendo despenado e levado ao forno em recipiente apropriado.
Hoje, tudo mudou e mudou completamente. Inventaram um tender e criaram um chester. Novidades da modernidade, substitutos do porco e suplente, em pleno exercício, do velho peru. Ninguém sabe mais o que é um peru bêbado, sem rumo, trocando as pernas como se gente fosse ou se gente pudesse ser. Ninguém sabe também como é um chester vivo e a esse propósito divulgo a fotografia que encontrei na Internet, de uma ave assim - um chester - vivo e bulindo. Havia quem acreditasse que sendo chester, só existiria morto ou não existiria, digamos.
Mas, dos meus natais todos ficaram os presentes de fim de ano que me dava o meu pai. Dentre todas essas lembranças, nunca esqueci dos passeios à rua da Aurora, à beira do Capibaribe, onde nos debruçávamos no caís e víamos de longe – de muito longe – o Governador na varanda do Palácio das Princesas. Passeios que terminaram, infelizmente, mas que permanecem vivos em minhas memórias. Certa vez, no amanhecer do dia 25, quando os meninos da rua recebiam os presentes da Fábrica TSAP, eu tirava de baixo da cama uma mannlicher – podia se dá arma de brinquedo no Natal –, com a qual dava tiros no nada das coisas. Usava rolhas de cortiça como balas e tinha a força do ar comprimido, mesmo frágil, no acionar do gatilho.



(*) - Crônica de Natal, resgate do meu ontem e do meu pretérito distante, bem distante. Texto que ofereço ao meu dileto amigo Roberto Monteiro, Bob por apelido e coronel por derradeiro, a quem, sem querer, acordei para uma consulta em minha grafia: "Como se escreve mannlicher?". E ele foi de uma atenção e de uma gentileza que só o
tempo de amizade pode explicar. Comente se desejar para pereira@elogica.com.br ou para pereira.gj@gmail.com Se não desejar nada comente ou não se pronuncie, mas tenha um Feliz Natal e um Ano Novo de felicidades. Segue também oferecido a Juliana Moroni, amiga aqui das filhas, prestes a viajar para a China. Loura, como está, vai impressionar multidões.